A tragédia anunciada para o Três Marias se confirmou. Aleixo Belov cortou o mastro de seu veleiro histórico
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“Obrigado amigos pela solidariedade. Me desculpem, mas não pude esperar mais. Cortei o mastro da Três Marias. Tinha que terminar a obra do museu. O mastro resistiu a todas as tempestades durante as três longas viagens de volta ao mundo sozinho, mas não resistiu à caneta do Iphan”.
Com essa mensagem, o velejador Aleixo Belov deu por encerrada sua aflitiva disputa com a Superintendência na Bahia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que não autorizou a instalação de uma gaiuta (claraboia) no teto do casarão em que ele está instalando o Museu do Mar de Salvador e que terá o Três Marias como atração principal.
Tombado pelo patrimônio histórico, o prédio no centro histórico da capital baiana tem pé-direito de 10 metros, altura insuficiente para abrigar o mastro de 13,20 metros do veleiro a bordo do qual Belov realizou as três primeiras de suas cinco voltas ao mundo.
Sabendo disso, o velejador consultou o Iphan sobre a possibilidade de manter uma abertura no teto do casarão, localizado no Largo Santo Antônio Além do Carmo. “Depois de permitir fazer a claraboia verbalmente, negaram por escrito”, lamentou Belov, que considera o corte do mastro uma mutilação. “Para um velejador, é quase tirar a alma!”.
Ao saber do impasse, NÁUTICA decidiu comprar a briga do velejador ucraniano de nascimento, baiano de coração, de 77 anos, 71 anos deles vividos em Salvador. Nem pensamos. Botamos a boca no mundo. Como pode, o Iphan, cuja missão é proteger e promover os bens culturais do país, sentenciar o Três Marias a perder parte de seu mastro?
Como resultado, Belov recebeu a solidariedade de dezenas de velejadores, que abraçaram a sua causa. Mas, premido pelo tempo — ele precisa terminar as obras do museu para inaugurá-lo no início de 2021 —, o próprio comandante do Três Marias decidiu fazer o corte, absorver o baque e tocar em frente. “Foi com dor no coração. A obra civil do museu está terminando. Esperei por um ano autorização para fazer uma claraboia. Não podia esperar mais”, diz, quase pedindo perdão.
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“Como tem mais detalhes em cima e em baixo, cortei 3,5 metros no meio e emendei o primeiro e o terceiro pedaços”, explicou ele, acrescentando que deverá deixar pedaço cortado do mastro exposto no museu, ao lado do veleiro.
“Na semana que vem, vou ter que instalar o mastro com os estais cortados e as cruzetas relocadas no barco, que está dentro de uma escavação de 2,7 metros abaixo do piso, como se estivesse flutuando, com folga para se ver o casco todo”, complementou Belov.
Faltou bom senso por parte dos técnicos do Iphan. A solução deveria ser outra, construtiva e não destrutiva. Em países da Europa não faltam exemplos de como administrar essa situação. O mais eloquente está na cidade de Estocolmo, a memorável capital da Suécia: o Museu Vasa guarda o navio de guerra Vasa que naufragou em sua viagem inaugural em 1628. O detalhe que chama atenção é que os mastros do navio ficam expostos para cima do telhado.
O Três Marias é um veleiro m Bruce Robert de 36 pés. A primeira de suas três viagens de volta ao mundo foi iniciada em 16 de março de 1980, uma época em que não existia o GPS para navegação nem telefone global. A segunda, em 1986. A terceira, no ano 2000. O barco foi construído do zero pelo próprio velejador, no quintal de sua casa, na capital baiana, no fim dos anos 1970. O nome é uma homenagem à suas duas filhas Marias e à ex-mulher, Maria Belov.
Há cinco meses, o barco foi colocado no casarão onde o museu funcionará, no Centro Histórico de Salvador. Foi necessário um guindaste para erguer o veleiro, de 7,5 toneladas, e colocá-lo lá dentro.
No Museu do Mar de Salvador ficarão expostas diversas peças e conhecimento adquiridos durante as suas viagens (cartas náuticas, cronômetros, fotos dos lugares que visitou, búzios de todos os oceanos, objetos diversos e toda a sua biblioteca), além, é claro, do veleiro histórico com seu mastro mutilado.
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