Expedição de canoa havaiana chega ao destino final, em Niterói, com trajeto inédito

Por: Redação -
18/01/2021

Depois de 22 dias, 1 060km navegados e remados, a 4ª edição da Expedição Anamauê chegou ao fim na tarde desta sexta-feira (15) no CEM, Centro de Estudos do Mar, na praia de Jurujuba, em Niterói (RJ), no que se intitula como a maior expedição de canoa havaiana do Brasil em trajeto inédito.

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Os seis remadores dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo concluíram os últimos 120 km do trajeto saindo de Arraial do Cabo (RJ), na Região dos Lagos, em 13 horas de duração na canoa havaiana V6 para seis tripulantes, barco apelidado de Jubarte pelos atletas. Eles acordaram à 0h de sexta-feira, saíram às 2h30 e chegaram perto das 16h.

Os velejadores/remadores do Rio de Janeiro e do Espírito Santo saíram no dia 24 de dezembro, na véspera de Natal, de Arraial d´Ajuda, no sul da Bahia, e navegaram ao todo em 14 deles, ficando parados nos demais por condições ruins de tempo e do mar.

Foi a primeira tripulação a bater os 1 000 km em uma canoa havaiana no Brasil, primeira tripulação a cruzar o Cabo de São Thomé, na região de Campos (RJ), de canoa havaiana, primeira tripulação brasileira a fazer o trajeto direto de Arraial do Cabo até Niterói sem apoio, de acordo com informações do grupo.

Daniel Gnone, mais jovem tripulante, da capital do Rio de Janeiro, comentou sobre o último dia de expedição: “No último dia navegamos na escuridão, com água muito gelada, uma navegação que exigiu muito da tripulação, estar atenta aos sinais, barulhos de outras possíveis embarcações, ondulações que fica difícil de ver à noite. Muito frio. O dia nasceu com muitas nuvens, só foi esquentar pelas 8h da manhã, momento mais frio da viagem. Navegação bem dura. Por volta de meio-dia, estava muito quente e ficamos parte navegando à vela, parte à remo, vento entrava e saía, e mantivemos a constância para não deixar a canoa parada. Quando o vento abaixava íamos para o remo mantendo a média de 9, 10km/h, não fosse isso não teríamos conseguido chegar no horário”, disse.

“Depois de 22 dias, concluímos nosso grande objetivo de vida. Foi um ano de planejamento e 22 dias de execução e só foi possível graças à equipe. Como um dos líderes e capitão tive momentos muito duros. Todos os dias que íamos para o mar precisava pensar que existiam cinco vidas comigo e não podia errar nas escolhas. Já vivíamos no risco numa canoa e barco adaptado com vela e tínhamos que ter a sagacidade de não colocar a tripulação em risco. Em alguns dias não pudemos sair para não colocar a tripulação em risco diante de condições inadequadas”, declarou Douglas Moura, de Niterói (RJ).

“Quando chegamos foi maravilhoso. Nos tornamos a primeira tripulação a bater acima dos 1 000km de canoa havaiana no Brasil. Passamos por locais remotos, sem possibilidades de desembarque que nos fez ter pernas extremamente duras e um planejamento muito preciso. Caso da última parte saindo de Arraial do Cabo às 2h da manhã para conseguir o objetivo de navegar por 120 km para chegar em casa. Pelo caminho visuais lindos, incríveis e uma grande ajuda das pessoas. O que vemos na mídia atualmente são somente coisas ruins diante do momento que vivemos, mas o que pudemos constatar é que se chegamos com muita humildade e vontade as pessoas ajudam, as pessoas são boas. Não ficamos desemparados em nenhum momento”, continuou Moura.

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“Foi uma experiência única e agradeço à toda equipe, Tavo Calfat, que foi meu braço direito, sem ele não teríamos conseguido. Foi um ponto forte junto comigo. Temos vivência de 15 anos de mar, é um grande irmão. Daniel Gnone, Bárbara, Ranin e a dupla Chico e o Guido que chegaram no último momento para ajudarem o time. Cruzamos o temido Cabo de São Thomé, primeira tripulação a navegar pelo sul do Espírito Santo e Norte do Rio de Janeiro. Foi uma grande conquista e, agora, é saborear e comemorar com amigos, familiares. Foi um feito. A adaptabilidade é a grande palavra, tivemos que nos adaptar bastante, desde que perdemos dois tripulantes em Grussaí, lugar que não conhecíamos ninguém, longe de tudo. Quando o mar ficou grande não desistimos. Persistência, resiliência. Nós temos muita coragem, mas o que levo comigo é muito respeito pelo mar que é muito forte. Se não tivermos essa consciência iremos nos dar mal. Agradecemos a todo mundo que nos acompanhou, que nos apoiou, a CORE que foi a principal responsável”, finalizou.

Daniel Gnone comentou sobre seu maior desafio: “Sentimento enorme de gratidão a todos que participaram, contribuíram de alguma forma, agradecendo muito à natureza por ter contribuído para termos concluído. Um dos maiores aprendizados que eu tiro é a persistência da equipe. Sentimento de dever cumprido, felicidade. Muita coisa que está vindo ainda”.

Barbara Guimarães, de Vitória (ES), comemorou ser a primeira mulher a fazer esse tipo de travessia: “Uma das coisas que mais gosto de fazer é me desafiar, saber o limite em que posso chegar. A travessia me mostrou a força e resiliência que eu tenho. Mesmo com todos desafios e incertezas durante o velejo e remo, tudo foi leve e muito prazeroso, com pessoas que com certeza são mais amigos agora do que quando começou a expedição. Estou muito feliz por ser a primeira mulher a fazer uma expedição dessa magnitude no Brasil, pela importância dessa representatividade e mostrar do que somos capazes.”

“Pra mim um dos momentos mais tensos foi a saída de Grussaí, quando a canoa alagou e eu tinha certeza que ela ia quebrar quando tirasse da água. Mas felizmente a canoa saiu ilesa e conseguimos cortar a ondulação e completar essa pernada que foi a mais longa. Chegamos de noite, com várias dores musculares mas tivemos vários presentes durante o trajeto, como várias aves e golfinhos passando perto da canoa, passamos tranquilamente pelo Cabo de São Thomé, que era um dos locais mais temidos, o pôr do sol do mar foi incrível, de noite vimos estrelas cadentes e algas bioluminescentes. Em resumo, mesmo com alguns perrengues, o céu e o mar sempre nos dava algum presente”, finalizou.

Tavo Calfat comentou: “Apesar de ter feito várias travessias à vela, essa foi uma expedição diferente, muito perto da costa, muito perto da água, a canoa é muito baixa e sempre ficamos navegando pertinho da água, com conforto limitado”, disse. “A interação com todos os tripulantes é muito próxima, mais que num barco à vela, então, isso tudo dá uma sensação de integração com a natureza muito grande, sensação de felicidade e bem-estar quando a canoa está andando. Conexão com a natureza. Fomos ao longo do tempo entendendo as limitações da canoa para fazer tudo na maior segurança. Fora isso, diariamente tínhamos as missões de embarque e desembarque e acharmos lugares para dormir. É incrível o que a canoa traz, ela traz amigos. Conhecemos pessoas incríveis pelo caminho que nos ajudaram e nos deixaram sem palavras. As pessoas se identificam com a gente, com nosso objetiv , com nosso propósito e sempre acabam ajudando e isso só aumentou a vontade e alegria de passar por tudo isso e atingir o objetivo”, finalizou.

O trajeto

O primeiro destino foi a praia de Corumbau, no município de Prado (BA), depois desembarcaram na praia do Prado (BA). Condições ruins impediram que a tripulação saísse no dia 26. No dia 27, foram para Nova Viçosa navegando e remando por 80 km. Na segunda-feira, tiveram que abortar a chegada na divisa com o Espírito Santo por uma tempestade e desembarcaram na praia de Mucuri, a Costa Dourada. O último trajeto antes da virada do ano foi até Regência, o maior deles com 100 km, onde aportaram na base da Canoa Polinésia Pataxó, comandada por Ranin Thomé, um dos líderes da 4ª Expedição Anamauê.

No dia 2, rumaram para a capital do ES, Vitória. No dia 3, partiram em trajeto mais curto para Anchieta (ES) e, no dia 4, foram para o extremo sul do estado, em Marataízes (ES), até cruzarem a divisa com o RJ na terça-feira da semana passada passada, onde foram obrigados a ficarem três dias esperando as condições do mar melhorarem. No final de semana saíram da praia de Grussaí, em Barra de São João (RJ), e levaram mais de 12h no mar até aportarem em Macaé (RJ) cruzando o temido Cabo de São Thomé, na região de Campos (RJ). No dia seguinte mais um dia duro para alcançarem Búzios (RJ) com ventos de 30 nós, algumas avarias no barco e muita disposição até uma reta final com surfe por cerca de vinte minutos. Condições ruins do mar fizeram a tripulação ficar alguns dias por Búzios até partirem na última quinta com destino a Arraial do Cabo e finalizarem na sexta para Arraial do Cabo.

O trajeto foi inédito percorrendo o litoral sul da Bahia, todo o litoral do Espírito Santo, Norte, Região dos Lagos no Rio de Janeiro. Os tripulantes estão dias inteiros no mar sem o auxílio de equipamentos eletrônicos, apenas bússola e carta náutica. A expedição foi feita por intermédio de uma canoa havaiana V6 adaptada com duas velas que ficou pronta em parceria com a CORE VA´A. Os atletas levaram seus mantimentos e equipamentos de dormir para quando não tiverem abrigo poderem dormir nas praias  mais remotas pelo litoral.

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