Senna, além de ídolo das pistas, também acelerava sobre as águas

Piloto brasileiro de F1 participou ativamente da construção de seus 3 barcos; um deles, Ayrton jamais conheceu

06/12/2024

Grande gênio do automobilismo, Ayrton Senna colecionou uma série de vitórias em sua carreira na Fórmula 1. Mas o ídolo brasileiro também esbanjava personalidade sobre as águas. Tanto é que os barcos de Senna, assim como seus carros, tiveram a participação ativa do piloto em sua construção — um deles, contudo, o piloto jamais pôde conferir a estreia.

A vida do piloto brasileiro que conquistou o mundo e marcou gerações ganhou diversas homenagens em 2024, ano em que sua morte completou 30 anos. Com séries e documentários sobre sua vida ganhando força nas telas, um novo grupo de pessoas está tendo acesso ao que foi o fenômeno Senna. O que poucos sabem é que, fora das pistas, Ayrton encontrou refúgio também nos mares.

 

Por isso, NÁUTICA apresenta, a seguir, os barcos e as histórias que envolvem a vida náutica de Ayrton Senna.

Os barcos de Ayrton Senna

Pole Position

A lancha Pole Position, um ‘canguru’ do estaleiro carioca Cobra — um dos mais ativos da década de 80 –, foi adquirida por Senna em 1986 e permaneceu com o piloto de Fórmula 1 até o fim de sua vida, em 1994.

Foto: Victor Santos / Revista Náutica

Durante os oito anos em que permaneceu nas mãos do piloto de Fórmula 1, a lancha foi utilizada por Senna para a prática de esportes aquáticos. Muito por isso, o barco foi adaptado para atender ao desejo do piloto por mais potência, com ajustes no casco e, principalmente, na motorização.

Foto: Victor Santos / Revista Náutica

Essa lancha de Senna esteve no São Paulo Boat Show 2024. A Pole Position leva um motor de 225 cavalos, cerca de “três vezes mais potente do que ela necessitaria”, como explica Danilo Iakimoff, “restaurador de histórias e barcos” e atual dono da embarcação.

Foto: Revista Náutica

Apesar dos recursos de Senna, a lancha não carrega grandes luxos. Por dentro, por exemplo, o destaque vai para os estofados brancos com detalhes em vermelho, originais desde os anos 1980.

Foto: Revista Náutica

O atual dono ainda preserva as marcas deixadas pelo uso constante da embarcação por Senna, como arranhões e vestígios de um possível acidente.

Joana II

Último barco pilotado por Senna, a Joana II é uma Panther 33, do estaleiro Intermarine. Fabricada na década de 1970, a lancha entrou na vida de Senna em 1991.

A embarcação fazia parte do pacote da casa que o piloto comprou, em Angra dos Reis. Tratava-se do imóvel de Antonio Carlos Almeida Braga — o Braguinha, ex-dono de uma das maiores seguradoras do Brasil, a Atlântica Seguros, empresa que se fundiu à Bradesco Seguros.

 

O barco carrega dois motores diesel Volvo Penta AQAD-41 de 200 hp cada, acoplados a rabetas Duoprop — ou seja, com dupla propulsão (dois hélices em cada motor). Isso faz dela uma lancha tão veloz quanto foi o próprio ex-dono.

Nascida de um projeto importado da Inglaterra, das pranchetas de Colin Chapman (o fundador da equipe Lotus, cujos carros foram pilotados por Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna), este modelo de linhas esguias foi o primeiro esportivo a ser fabricado em série pela Intermarine na faixa dos 10 metros de comprimento.

 

Este barco do Senna também foi uma das primeiras offshore a navegar no Brasil — e a primeira a conquistar os corações dos pilotos.

Quando assinou contrato com a McLaren, Senna exigiu que fosse incluída uma cláusula nova: a garantia de dois meses de férias por ano. Três anos depois, essas férias ganharam um destino certo: Angra dos Reis, ao lado da família, dos jets e da lancha Joana.

A.S. Atalanta, o barco que Senna nunca pilotou

Com toques do tricampeão de F1, o projeto da lancha A.S. Atalanta (de 41,7 pés), iniciado em 1992, ficou pronto em 1994. Senna, porém, jamais chegou a ver o barco em ação.

Foto: Victor Santos / Revista Náutica

Isso porque a primeira unidade construída pelo estaleiro Fast especialmente para ele só atracou no píer de sua casa, em Angra dos Reis, na manhã do dia 30 de abril de 1994, um sábado — véspera do trágico acidente do GP de San Marino, no circuito italiano de Ímola.

Foto: Rogério Palatta / Revista Náutica

A irmã, Viviane Senna, era quem acompanhava de perto a construção da lancha enquanto o piloto estava fora do país — não sem trocar ideias com ele por telefone, a respeito de todos os detalhes.


O nome A.S. Atalanta foi escolhido pelo próprio piloto: A.S. são as iniciais de Ayrton Senna, enquanto o Atalanta (inspirado na mitologia grega) se refere a uma guerreira muito veloz, que somente se casaria com um homem que a derrotasse em uma corrida.

Foto: Rogério Palatta / Revista Náutica

A decoração deste barco do Senna, por sua vez, ficou a cargo de Ana Cláudia Moreno, especialista em projetos náuticos e decoração de barcos.

 

A lancha A.S. Atalanta permaneceu com a família do piloto até 2005, quando foi vendida. À época, impulsionada por dois motores Caterpillar 3208, de 435 hp cada, alcançou 32 nós (60 km/h) de velocidade máxima, uma boa marca para um barco que desloca 12 toneladas.

Foto: Rogério Palatta / Revista Náutica
Foto: Rogério Palatta / Revista Náutica
Foto: Rogério Palatta / Revista Náutica

NÁUTICA testou um dos barcos de Senna em 1994

Projetada pelo norte-americano Tom Fexas, a A.S. Atalanta é uma lancha cabinada com flybridge, que leva 16 pessoas durante o dia e acomoda quatro em pernoite, em dois camarotes. Seu casco, porém, é do tipo esportivo, feito não com madeira revestida com fiberglass, mas sim com moldes únicos injetados com poliuretano.

Foto: Arquivo / Revista Náutica

A técnica só passou a ser utilizada por grandes estaleiros anos depois, o que demonstra a capacidade de visão e de boa performance, uma exigência do piloto tricampeão mundial.

 

O barco de Senna apresenta linhas aerodinâmicas e limpas, sem acessórios que poderiam comprometer a estética. O guarda-mancebo, por exemplo, é baixo e se limita à proa do barco, o que facilita a movimentação em torno da casaria, embora, em contrapartida, não ofereça segurança para uma criança que se desloque até a proa.

Foto: Arquivo / Revista Náutica

A ideia do estaleiro Fast, depois de entregar a lancha de Ayrton Senna, era dar início à construção do modelo em série, em uma parceria com a Senna Promoções e Empreendimentos, tocada pelo irmão de Ayrton, Leonardo Senna, numa tentativa de expandir os negócios da família rumo ao mercado náutico.

 

Com a morte do piloto, o projeto foi cancelado. Porém, outro estaleiro (a Cobra Náutica) adquiriu os moldes da lancha e construiu outras quatro unidades, que até hoje circulam por nossas águas. Nenhuma com o valor histórico da A.S. Atalanta, a última paixão de Ayrton Senna nos mares.

 

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