Entenda o que está acontecendo no Morro do Careca, em Natal, que corre risco de colapso
Patrimônio histórico e cultural da cidade tem sofrido com o avanço das marés acima do normal
O Morro do Careca, cartão-postal de Natal, capital do Rio Grande do Norte, está correndo risco de colapso. O motivo não surpreende, e é mais um reflexo da emergência climática que vive o planeta. Agora, medidas de contenção tentam apaziguar a situação, tida por especialistas como um processo erosivo crônico.
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Com cerca de 107 metros de altura, o Morro do Careca é uma duna, estabelecida no extremo sul da Praia de Ponta Negra. Considerado um dos principais símbolos turísticos da capital potiguar, está desde 1997 fechado à visitação — uma ação que visa preservar a mata de restinga e até o próprio morro, já que os deslizamentos de areia estavam reduzindo sua altura.
Chegando a 27 anos depois da medida de fechamento, o Morro, patrimônio histórico e cultural de Natal, se vê agora em outro tipo de situação alarmante. Desta vez, em decorrência do avanço acima do normal das marés — que têm colocado em risco de colapso a formação geológica natural.
“A grande maioria das praias arenosas do mundo está enfrentando processo de erosão acelerado em razão da emergência climática, das energias oceânicas cada vez mais intensas. Sobretudo as ondas e as correntes”, explicou Venerando Eustáquio, professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em entrevista ao Estadão.
Como o Morro do Careca chegou nessa situação
Eustáquio exalta que a situação do Morro do Careca é tida como “muito vulnerável”, já que o volume de areia que alimenta a duna está escasso. Uma das causas para isso, conforme explica o professor, é que a crise hídrica na região fez com que os rios fossem barrados, o que diminuiu o aporte de sedimentos para a região costeira, levando menos areia a cada temporada.
A situação se assemelha ao que acontece no Ceará, com a famosa duna de Jericoacoara, prestes a ser engolida pelo mar.
Não bastasse a escassez do volume de areia que alimenta a formação geológica, as ondas ainda afetam a base do Morro do Careca, revelando uma falésia (acidente geográfico que consiste em uma encosta íngreme ou vertical, formada pela erosão do relevo litorâneo, provocada pela ação da água do mar, da chuva e do vento).
“Esse processo tem se intensificado no decorrer das décadas, a partir dos anos 1980. Ocorreu uma ocupação desordenada do solo nas áreas costeiras. Obras em setores que o mar avança e derruba”, destacou Eustáquio ao Estadão.
Não é só o Morro que sofre
O decreto 13.192, de 20 de setembro deste ano, da prefeitura de Natal, aponta que o “avanço das marés acima da normalidade tem provocado o agravamento da erosão marinha, destruição dos equipamentos dissipadores da drenagem na praia de Ponta Negra, bem como destruição parcial da proteção costeira de hotéis e de rampas de acesso à praia”.
Ainda de acordo com o documento, foi identificada “acentuada desagregação de blocos de sedimento, fragilidade erosiva, risco de solapamento do solo (tipo de deslizamento de cotas superiores para inferiores, que provoca o afundamento do solo), carreamento superficial de areia, colapsos de arcos sedimentares, entre outros”.
Medidas de contenção
Para tentar evitar o colapso do Morro do Careca, algumas medidas vêm sendo tomadas pelas autoridades locais. Na última semana, por exemplo, a capital potiguar chegou a decretar emergência por 90 dias.
Além disso, o cartão-postal foi isolado com sacos de areia, assim como teve início a “engorda da praia” de Ponta Negra e de um trecho da Via Costeira, que visa expandir a faixa de areia em até 100 metros durante a maré baixa.
Segundo o município, guardas municipais permanecerão no local para evitar circulação de pessoas.
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