Você sabia que os peixes estão “consumindo” medicamentos antidepressivos?
Despejados na água sem o devido tratamento, resíduos farmacêuticos estão afetando a saúde dos animais


Embora os antidepressivos ajudem milhões de pessoas, o efeito não é o mesmo quando essa substância contamina outras espécies. Segundo estudo publicado no British Ecological Society, os peixes já estão em contato com estes resíduos químicos — o que pode alterar o corpo, comportamento e reprodução sexual dos animais.
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A pesquisa comandada por Upama Aich, Bob Wong e Giovanni Polverino estudaram os impactos do antidepressivo fluoxetina (mais conhecido pela marca comercial Prozac) em guppies machos. No experimento, 15 gerações e 3.600 peixes desta espécie foram expostos a níveis contaminados por resíduos farmacêuticos durante cinco anos.
Além de terem encontrado traços do antidepressivo nos peixes em águas doces — o que não surpreendeu os cientistas –, os resultados mostraram que mesmo pequenas doses da substância, comum em corpos d’água, prejudicam a saúde e a reprodução dos peixes.
De acordo com a pesquisa, a motilidade (movimentação) dos espermatozoides foi reduzida nos machos expostos, em comparação aos animais que não foram apresentados a resíduos de antidepressivos.
Como as guppies fêmeas são capazes de acasalar com múltiplos machos, os “espermatozoides de machos diferentes podem competir dentro da fêmea para fertilizar os óvulos”, segundo o estudo.
Motilidade espermática mais baixa pode, portanto, reduzir o sucesso reprodutivo de machos expostos à fluoxetina– disseram os pesquisadores no artigo
Consequências abrangentes
Feito para aumentar o nível de serotonina no cérebro e causar o sentimento de bem-estar e felicidade nos humanos, o antidepressivo Prozac tem efeito quase que inverso nos peixes. Outros estudos já apontaram que a fluoxetina pode tornar os guppies menos ativos — em todos sentidos.


Além disso, a substância química alterou o comportamento dos peixes, tornando-os menos capazes de ajustar suas ações em diferentes contextos. Na natureza, comportamentos previsíveis farão com que os guppies sejam alvos mais fáceis para predadores — que comprometeria sua sobrevivência.
Logo, esses efeitos comportamentais reforçam preocupações sobre como a poluição farmacêutica — mesmo que em pouca quantidade — pode impactar ecossistemas aquáticos. A pesquisa também ressalta a urgência de entender as consequências da substância nos ambientes a longo prazo.
Como o antidepressivo chega até os peixes?
Quando qualquer medicamento prescrito é consumido pelo paciente, seu corpo não absorve toda a substância. Logo, o resíduo é excretado na urina ou nas fezes. Em seguida, passa pelo vaso sanitário e continua para os cursos d’água e centros de tratamento de resíduo.
Entretanto, a substância permanece na água e as espécies marinhas absorvem esses poluentes. Nem mesmo nos centros de treinamento de resíduos — feitos justamente para eliminar os contaminantes — conseguem tratar o ecossistema e remover os restos farmacêuticos.
Sendo assim, a água ainda pode ser absorvida pelos peixes — como no caso dos antidepressivos. Para piorar, medicamentos vencidos ou não utilizados são frequentemente despejados no vaso sanitário, o que deixa a situação mais crítica.
Segundo especialistas, serão necessárias mais pesquisas para entender exatamente como esses poluentes podem prejudicar o ambiente aquático. Com mais resultados, teríamos mais respostas de como melhorar os padrões de monitoramento e diminuir — quiçá eliminar — os produtos químicos da água doce.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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