Brasileiro fez imagens inéditas de baleia que quase foi extinta: “indescritível”
Documentarista flagrou uma das baleias mais rápidas do mundo e que não era vista há 100 anos
Estar cara a cara com uma baleia é uma experiência tão única que é capaz de marcar para sempre uma vida. Isso quem diz é o premiado documentarista de natureza Cristian Dimitrius, 49, que viveu momentos emocionantes ao capturar o primeiro vídeo subaquático de uma baleia-sei da história.
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Desaparecida dos mares gelados da Patagônia argentina por conta da caça, a espécie — terceiro maior cetáceo do mundo, capaz de chegar a 20 metros de comprimento — quase entrou em extinção. Esse tipo de baleia deixou de ser vista há cerca de 100 anos — o que torna o registro de Cristian ainda mais especial.
Mestre no que faz, o mineiro recebeu o Emmy 2013 na categoria “Melhor Direção Fotográfica em Documentários” e fez diversos trabalhos para canais como NatGeo, BBC, Apple TV e TV Globo — onde apresentou um quadro no antigo Domingão do Faustão. Mas nem esse currículo de peso o livrou dos dois ingredientes primordiais para gravar a baleia-sei: disciplina e, acima de tudo, perseverança.
Ariscas e extremamente rápidas, as baleias-sei não são afáveis a qualquer tipo de contato humano e costumam fugir apressadas — exceto uma, definida por Cristian como “baleia amiga”.
Até encontrá-la, porém, o documentarista viveu nada menos do que dez dias de ininterruptas tentativas. Sempre que o animal se aproximava, ele mergulhava, apenas para voltar à superfície com uma bagagem de frustração.
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Quando a sorte virou, nem toda a beleza das imagens foi capaz de representar a magnitude e grandiosidade do momento de estar ao lado da rara baleia-sei.
Ela parou na minha frente para ficar comigo. A gente sente uma conexão muito forte, é algo indescritível, não dá para definir em palavras. É um privilégio estar com um animal tão único– afirmou, em entrevista à NÁUTICA
Único e raro. Caçada até quase a extinção no hemisfério Sul, a espécie tem voltado a reaparecer nesses lugares devido a medidas de proteção implementadas ao redor do globo.
A sensibilidade de saber que estava lidando com uma espécie ainda ameaçada e amedrontada por natureza rendeu a Cristian instantes ímpares, em que não só conseguiu brincar com ela e fazer o primeiro vídeo subaquático, como também registrar a primeira selfie com o animal.
Em busca da baleia-sei amiga
O registro aconteceu durante expedição pela Patagônia argentina, em projeto financiado pela ONG Pristine Seas, da National Geographic. A organização atua na proteção dos oceanos e tem como objetivo promover áreas de conservação marinha ao redor do mundo.
Convidado para fazer parte da expedição, Cristian não pensou duas vezes e embarcou com um conjunto de pesquisadores, responsáveis por rastrear as baleias-sei. “Durante essa época do ano, elas ficam próximas a Comodoro e migram para o norte, incluindo o Brasil, mas preferem as águas abertas [do oceano]. Você nunca sabe onde estão”, explica.
Além do desafio de encontrá-las próximo à costa, a equipe precisava tomar o máximo de cuidado para não assustá-las. Ao verem o borrifo de água característico do animal, o barco se aproximava a uma distância segura e Cristian pulava na água — em mergulho livre ou com cilindro — para tentar as filmagens. Esse processo foi repetido exaustivamente, com o acréscimo da dificuldade de enxergar em meio à água turva.
A própria natureza das baleias-sei não contribuía com o propósito: capaz de transitar a até 50 km/h, a espécie recebeu o título de uma das mais rápidas do mundo — motivo pelo qual foi equiparada a um “fantasma debaixo d’água” por Cristian, capturado, inicialmente, apenas em fragmentos.
“Fazer essa imagem era quase impossível com as condições ali, mas era preciso desvendar como quebrar o código. Entender a baleia, tentar outros jeitos, até unir todas as variáveis e ter a sorte de uma deixar você se aproximar”, aponta.
Quando a “baleia amiga” apareceu para abrir as portas de seu universo ao documentarista, todo o esforço foi recompensado. Exibidas em diversos portais de notícias, as imagens já rodaram por vários países e seguem encantando quem as observa.
Só de ter essa única oportunidade, valeu a pena toda a frustração acumulada em dez dias. É como escalar uma montanha: durante o caminho não é fácil, mas a hora que você chega lá e tem aqueles poucos segundos no cume, valeu toda a preparação– destaca
A expectativa é de que as filmagens da baleia-sei componham uma peça promocional para incentivar o aumento de áreas de conservação e angariar o apoio de autoridades, políticos e populações, jogando, assim, os holofotes sobre a importância da preservação.
Diante de uma vida dedicada a capturar os espetáculos da natureza, Cristian é só gratidão. “É um verdadeiro privilégio viver próximo à natureza. Sempre aprendo muito e volto uma pessoa diferente”, conclui.
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