Preparamos um roteiro por Ilhabela, que sediará a 50ª edição da Semana de Vela

Evento acontece de 22 a 29 de julho na ilha que reserva grandes refúgios naturais

14/07/2023

De 23 a 30 de julho, Ilhabela será sede da 50ª edição da mais tradicional semana de vela do país. Serão sete dias ininterruptos de regatas, intercalados com muita confraternização, numa mistura de sotaques tanto brasileiros quanto estrangeiros. Impossível não ficar impressionado com as dimensões de um evento que nasceu despretensiosamente, 50 anos atrás, e que hoje atrai cerca de 1.600 velejadores.

Organizada pelo Yacht Club de Ilhabela, a Semana de Vela deve reunir este ano cerca de 150 veleiros, distribuídos pelas classes ORC, BRA-RGS, VPRS, C30, HPE 25, Clássicos, Bico de Proa e Multicasco. Os catamarãs correrão como classe convidada desde que formem uma flotilha e esta seja aprovada pela Comissão Organizadora.

Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Divulgação

A competição também valerá como Campeonato Brasileiro da Classe C30 e segunda etapa do Campeonato Brasileiro da Classe BRA-RGS. A abertura está marcada para o domingo, 23 de julho, com a regata Alcatrazes por Boreste – 100 anos Veleiro Atrevida, com percurso de 55 milhas.

Foto: Marco Mendéz/ Sail Station/ Divulgação

Mas esse não é o único motivo para você programar aquela viagem ao litoral de São Paulo. A Semana de Vela ocorre em um dos lugares mais bonitos do litoral do Brasil, com praias, matas, cachoeiras e muitas belezas naturais. Fácil, fácil, está entre os melhores lugares do país para se conhecer. Mesmo quem só vai para passear gosta. E sempre volta.

Saco da Capela. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Abaixo, confira alguns motivos para ir à mais famosa ilha do litoral norte de São Paulo, durante a Semana de Vela.

A raia é democrática

A despeito de ser uma competição altamente seletiva do ponto de vista técnico e de ser dominada por veleiros de alta performance, a Semana de Vela não deixa de fora os competidores amadores, com seus barcos de cruzeiro – que, inclusive, são maioria.

Foto: Edu Grigaitis | Balaio de Ideias / Reprodução

E é justamente aí que reside um dos segredos do seu sucesso: permite que uma família de amadores divida a raia com medalhistas olímpicos como Robert Scheidt (que já confirmou presença este ano), Marcos Soares, Torben e Lars Grael.

Atrações para todos os gostos

Sediar o maior evento náutico da América Latina, a Semana de Vela de Ilhabela, é apenas mais um detalhe. Abençoada pela natureza, com lindas praias urbanas de um lado, ainda selvagens do outro e uma exuberante Mata Atlântica em todo o resto, Ilhabela é tão bonita que juntou substantivo e adjetivo numa só palavra. Em Ilhabela, basta navegar alguns minutos para achar (e sempre se acha…) uma praia de cartão postal e com praticamente ninguém no horizonte.

Praia do Pacuíba. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Vegetação intocada

A capital nacional da vela detém outro título igualmente invejável: é o município brasileiro com o maior índice de preservação da Mata Atlântica original. Para ter uma ideia disso, basta dizer que 83% da ilha faz parte de um parque estadual que a preserva praticamente virgem e inacessível, enquanto a vila, os bairros, as ruas e as praias do sul e do norte ocupam apenas 17% da sua área. Num cenário assim, qualquer passeio ao ar livre já é um prazer à parte.

Cachoeira dos Três Tombos. Foto: Lailson Santos | Sectur Ilhabela

Mais de 40 praias

Para quem quer passar o dia relaxando diante do mar, Ilhabela tem 42 praias, metade delas ainda praticamente virgens: Castelhanos, Bonete, da Feiticeira, das Pedras Miúdas, Ilha das Cabras, do Curral, da Pedra do Sino, da Armação, de Jabaquara, etc.

Praia do Curral. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Trilha Bonete-Castelhanos

Que as praias do Bonete e de Castelhanos são as mais desejadas da ilha, ninguém duvida. Mas o que poucos sabem é que, embora distantes entre si, existe um caminho (caminho mesmo, porque só pode ser feito a pé) entre essas duas praias.

Trilha do Bonete. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

É uma pernada e tanto, coisa de cinco ou mais horas de caminhada, dependendo da quantidade de paradas pelo caminho, já que a trilha reserva alguns atrativos para os andarilhos. Um deles é uma centenária árvore sapopema, cujo tronco é mais largo do que dez pessoas juntas.


Travessia de riacho na praia das Enchovas

A caminhada entre o Bonete, no extremo sul de Ilhabela, e Castelhanos, situada no lado leste, reserva boas surpresas. Uma delas é a travessia de um riacho de águas cristalino nas proximidades da praia das Enchovas (um recanto isolado, habitado por apenas uma família, onde a faixa de areia é coberta de pedras redondinhas, e o mar é transparente), que também é atravessada pela trilha que une as duas praias.

Praia das Enchovas. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Um mirante natural

Na chegada a Castelhanos há um sensacional mirante natural, que permite ver a praia inteira de cima. Claro que não dá para ir e voltar no mesmo dia, mas pode ser um grande passeio para quem estiver no Bonete e quiser voltar para a vila nos jipes que levam turistas para Castelhanos — ou vice-versa.

Praia de Castelhanos. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

O uso original da trilha era para unir as comunidades caiçaras das duas praias. Quanto aos borrachudos, eles já não formam aquelas implacáveis esquadrilhas, capazes de deixar seus tornozelos em pandarecos.

Tesouros da natureza

Em meio à grande profusão de rios e mata virgem, distribuem-se 360 cachoeiras, sendo que 30 delas são abertas ao público para banho. Algumas são de fácil acesso, por meio de trilhas leves; outras têm percursos mais aventurosos.

 

É o caso da cachoeira Grande do Areado, a maior das quedas d’água existente na ilha. Estima-se que ela tenha entre 150 e 200 metros de altura, o que a colocaria como uma das maiores do país. Mas o seu acesso é bem complicado e a caminhada, pra lá de pesada — coisa de 24 quilômetros ida e volta.

Cachoeira da Laje. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Mais simples (mas ainda assim não tão fácil, por exigir uma caminha de uma hora e meia) é visitar os chamados poços da Cachoeira do Laje, na trilha que leva à praia do Bonete. São dois poços de águas cristalinas. O primeiro deles lembra uma piscina olímpica. O segundo permite tomar banho de água doce vendo o mar ao fundo. Vale o esforço. E como vale.

Volta à ilha de barco

Com 330 quilômetros quadrados — ou 169 vezes a área do Principado de Mônaco — Ilhabela é a maior ilha marítima do Brasil. Ainda assim, pode ser contornada em um único dia de passeio de barco, embora isso não seja o mais recomendado, até porque sua navegação pode exigir muita atenção em certos trechos. Bem melhor é programar dois ou três dias e dormir ancorado em algumas de suas pequenas baías.

Praia da Fome. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Prainha do Codó

Para quem preferir contornar a ilha de barco, é preciso ser bem curioso e ficar muito atento ao navegar entre a Baía de Castelhanos e o Saco do Sombrio para achar esta idílica prainha, que fica pra lá de escondida, quase em frente às ilhas Galhetas, mas não à vista dos barcos que passam.

Prainha do Codó. Foto: Márcio Bortolusso/Photoverde

O segredo está na sua localização, completamente atrás das pedras da costeira, e no seu minúsculo tamanho, com uma faixa de areia que, na maré baixa, mal passa dos dez metros de comprimento (na alta, ela praticamente desaparece).

 

É tão pequena e tranquila que barco não entra. É preciso ancorar bem antes e chegar nadando, o que só aumenta a surpresa de contornar uma fileira de pedras e dar de cara com o pequeno paraíso, que os caiçaras chamam de Codó ou Codói.

Tesouro escondido

Outro tesouro escondido no lado leste da ilha é a minúscula Praia da Riscada. Se não procurar, não acha. Todo mundo que vai de barco até Castelhanos passa por ela, mas não a nota, porque as mesmas pedras que a decoram (uma delas, bem no meio da areia, caprichosamente esculpida pela natureza com frisos — daí o nome, “riscada”) a escondem na costeira, além de impedir a aproximação dos barcos. O único jeito é cair na água e chegar a nado, o que, nos dias de mar calmo, é outro grande prazer.

Praia da Riscada. Foto: Márcio Bortolusso/Photoverde

Praia e piscina, lado a lado

No norte da ilha, entre a praia da Fome e o costão do Quebra-Coco, localiza-se a curiosa praia do Poço, que só quem conhece bem Ilhabela costuma acessar de barco, por ficar quase escondida no fundo de um saco — quem passa pelo mar, não vê a praia.

Praia do Poço. Foto: Márcio Bortolusso/Photoverde

Seu maior atrativo não é não ficar à mostra e sim o que ela tem para mostrar: um formidável poço de água doce (daí o nome da praia), permanentemente alimentado por uma pequena cachoeira que muda toda hora de formato, ao sabor das marés e do volume de água que vem do poço. Só o que nunca muda é o apetite dos borrachudos, ali sempre famintos. Mas, dentro d’água eles não têm como atacar.

Indaiaúba, uma praia quase exclusiva

Quanto você daria para ter uma praia só sua? Um milionário gastou uma grana preta para isso, na parte sul da ilha.

Praia de Indaiaúba. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Depois de comprar toda a parte de trás da praia de antigos caiçaras, ele fincou algumas (poucas) casas, para ele e seus familiares, implantou um esquema de segurança hi-tech, com câmeras de vigilância e seguranças motorizados espalhados pela mata preservada, e mandou construir um heliponto, já que não existe outra maneira chegar nesta praia a não ser a pé, de barco ou de helicóptero. Para muitas, Indaiaúba é a mais bonita das 42 praias da ilha.

Saco do Eustáquio, onde o mar é mais calmo

Quando querem um lugar bonito, tranquilo, seguro e muito abrigado para ancorar e passar o dia (e, eventualmente, também uma noite a bordo), os donos de barcos de Ilhabela não costumam ter muitas dúvidas: apontam a proa para o Saco do Eustáquio, vizinho à Baía de Castelhanos, do lado de fora da ilha.

Saco do Eustáquio

Essa enseada (ou “saco”, como os caiçaras a chamam) tem as águas mais tranquilas da ilha, e ainda por cima é protegida contra qualquer tipo de vento. Um abrigo perfeito, enfim. E ainda há dois gostosos quiosques na areia, sob a sombra de amendoeiras.

A emoção do Buraco do Cação

Entre todas as atrações naturais de Ilhabela, o Buraco do Cação talvez seja a mais radical. O Buraco é uma fenda na costeira da parte sul da ilha, no caminho para o Bonete, que o mar invade sem dó, especialmente nos dias de vento mais forte.

Buraco do Cação. Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Mesmo nos dias de mar calmo, só os mais experientes arriscam entrar nele, porque o risco de ficar preso lá dentro pela maré existe de fato. Mas a recompensa é que, logo após a fenda a gruta se alarga e é iluminada por uma espécie de claraboia no teto. É um lugar mágico. E para poucos.

O farol da Ponta do Boi

Fica em lugar bem isolado, no lado de fora da ilha, onde só se chega lá de barco — e se o mar estiver muito calmo — ou a pé, após algumas horas caminhando por uma trilha que parte do Saco do Sombrio.

Farol da Ponta do Boi. Foto: Márcio Bortolusso/Photoverde

Com jeito de castelinho, teve a construção concluída no ano 1900, em uma localização estratégica, para tentar evitar os muitos naufrágios que aconteciam na ilha. Sua luz pode ser vista de uma distância de 22 milhas.

Mergulhar na Ilha das Cabras

Mergulhar é um ótimo programa em Ilhabela. A ilha tem vários naufrágios para serem visitados e mar com boa visibilidade quase o ano inteiro. Um dos pontos imperdíveis é justamente o mais básico de todos: a ilha das Cabras, que fica a menos de 200 metros da orla.

Ilha das Cabras

Não há outro local com tamanha diversidade de vida marinha no litoral de São Paulo do que o entorno daquela ilhota, que pode ser vista até da estrada que leva ao sul da ilha. Não por acaso, a ilha das Cabras é um famoso ponto de ‘batismo’, ou seja, onde a maioria dos iniciantes faz o seu primeiro mergulho.

Avistamento de pássaros e de baleias

Ilhabela está dando impulso a uma nova forma de turismo, dentro de uma proposta de vida natural: o avistamento de pássaros e de baleias. Nada menos que 317 espécies de pássaros foram identificadas na ilha, dentro do projeto Birdwatching, que prevê a instalação de torres de avistamento em seis pontos do Parque Estadual de Ilhabela.

Bico-de-lacre. Foto: Aurélio Rufo | Sectur Ilhabela

Os visitantes podem observar, fotografar e catalogar espécies como o Tiê-sangue, símbolo da Mata Atlântica, Tangará, Coruja-preta e Papagaio-moleiro — esta espécie, eleita a ave símbolo da ilha.

Baleias jubartes

Se uma baleia encanta muita gente, imagina mais de uma centena delas. Segundo registro do projeto Baleia à Vista, que faz monitoramento dos mamíferos no litoral norte de São Paulo, esse é o número aproximado das jubartes — famosas por seu canto, por suas nadadeiras gigantescas e pelo belo balé aquático — avistadas a cada ano em Ilhabela.

Foto: Acervo/Sectur / Divulgação

A presença desses carismáticos animais suscitou a criação de postos de observação, por terra e pelo mar, que atrai turistas de diferentes partes do Brasil e do mundo.

O centrinho da vila

Indo para Ilhabela, não pode haver uma experiência completa se a jornada não incluir um rolê pelo charmoso centrinho da ilha, chamado de “a Vila”. É ali que ficam os restaurantes, os cafés e as livrarias. É ali também, pela rua do meio, que os velejadores costumam circular quando não estão na raia.

Centro Histórico (Vila). Foto: Paulo Stefani | Sectur Ilhabela

Sem contar que, em tempo de Semana de Vela, tem lugar ali a chamada Race Village, palco para shows, ciclos de palestras e da entrega de prêmios para os vencedores das regatas. Dali, é possível acompanhar em tempo real, através de telões, as posições dos barcos nas regatas — algo impossível de acompanhar de terra firme.

A Meca da vela

Em resumo, Ilhabela tem uma costa linda, com dezenas de praias, muito verde, cachoeiras e uma gastronomia que respeita a tradição caiçara. E, como se não bastasse, ainda é a capital brasileira da vela e palco da maior competição oceânica da América Latina.

Foto: Edu Grigaitis | Balaio de Ideias / Reprodução

Quem diria que aquele evento despretensioso — que os velejadores Mário Volcoff e Carlos Cyrillo criaram 50 anos atrás, para dar credibilidade e vender títulos do então recém-inaugurado Yacht Club de Ilhabela — se transformaria em uma verdadeira apoteose da vela?

 

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