Teste Mestra 322: lancha traz conforto de sobra para um fim de semana a bordo em família
Com espaço na medida certa, modelo é sucesso de vendas na categoria das embarcações de 30 pés
O estaleiro Mestra Boats, um dos que mais crescem no segmento de lanchas de fibra de vidro de 16 a 24 pés, destinadas a passeios em águas interiores, decidiu investir em barcos maiores. A equipe de NÁUTICA fez o teste da Mestra 322 — embarcação com a qual o estaleiro passou a disputar mercado na disputada faixa dos 30 pés.
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Com acabamento bastante caprichado, cuidados quase artesanais na produção e o uso elegante de madeira nos acabamentos, a 322 não é apenas uma Mestra maior. É também a lancha mais completa da marca. Não por acaso, foi um dos maiores sucessos de venda durante o São Paulo Boat Show 2022, no qual foi lançada. E repetiu a dose no Rio Boat Show 2023.
Com 10 metros de comprimento de ponta a ponta, três metros de boca máxima e visual de lancha importada, esta 32 pés se destaca pela cabine com teto alto na entrada (pé-direito de 1,90 m), com pernoite para quatro pessoas, e pelo cockpit bem resolvido, com capacidade para até doze pessoas, embora o ideal seja acomodar até oito, incluindo o piloto. Outros pontos altos são a decoração e os ambientes calorosos.
Em todo barco, a cor caramelo dos sofás — item configurável pelo cliente — contrasta com a madeira dos móveis, resultando um efeito visual agradável. Sob o volumoso T-Top, a iluminação com fita de led, de uma cor aconchegante, somada ao revestimento da parte de baixo da capota rígida com tecido no mesmo tom dos sofás, torna o ambiente ainda mais acolhedor.
No cockpit, área de convívio a bordo por natureza, há dois sofás (um, a bombordo, em formato de “L”; outro, a boreste, com aparência de “S”) que ajudam muito no equilíbrio de peso dos passageiros na hora de navegar, e uma mesa com porta-copos para aperitivos e refeições. Chama atenção, também, o ótimo espaço livre para circulação dos passageiros, o que tem peso relevante para o comandante na hora da compra.
Na cabine, os camarotes não são fechados, o que diminui a privacidade, mas em compensação aumenta a sensação de espaço. A cozinha compacta, mas bastante honesta, pode ter pia, fogão cooktop elétrico, micro-ondas e uma pequena geladeira. Na proa, o sofá em V, com uma mesa giratória no centro, converte-se em uma ótima cama de casal — as peças para montá-la têm o mesmo tecido, obviamente.
Ainda nesse camarote, há um armário e tomada de eletricidade na cabeceira, mas falta uma saída USB para o celular. As vigias têm abertura estreita, seguindo o perfil esportivo do exterior, mas permitem alguma circulação de ar.
À meia-nau, o camarote também não é fechado, embora não seja devassado, e por isso não provoca claustrofobia aos mais inquietos com espaços fechados. E ainda há as janelas laterais, que oferecem visão do mar e claridade natural.
Por sua vez, o banheiro, rico em elementos de madeira, tem pia (cuja torneira poderia ser flexível, permitindo maior área de alcance do jato d’água), armário, espelhos, vaso elétrico e chuveiro móvel. O box não é fechado, mas tem uma divisória que delimita o espaço parcialmente. A altura (1,85 m) é boa. Dá para tomar banho e trocar de roupa em pé. Mas cairia bem uma melhor iluminação.
O acesso à cabine é feito por escada que tem os degraus separados por uma altura adequada; porém, a largura dos degraus poderia ser um pouco maior, lateralmente, permitindo um caminhar mais confortável e seguro. Não está ruim, mas pode melhorar.
Lá dentro, a ventilação natural e a claridade da cabine são garantidas por três vigias e uma boa gaiuta. Na iluminação artificial, todas as lâmpadas são de led, o que aumenta a autonomia das baterias do barco, além de deixar o ambiente mais agradável.
O T-Top com iluminação em led é item de série, assim como a targa em fibra de vidro na cor black piano, o banco de piloto duplo e rebatível, o espaço gourmet com churrasqueira de embutir e a escada de popa telescópica de quatro degraus, com apoios laterais — o que é muito importante.
Por sua vez, tanto o ar-condicionado na cabine como o gerador de 4 kVA são itens opcionais importantes, assim como a direção escamoteável e o guincho elétrico.
No posto de comando, o caprichado banco duplo, com assento rebatível e ajuste de altura, permite que o piloto navegue sentado, em vez de se encostar na quina do assento. Vale ressaltar que a Mestra 322 é a primeira embarcação do Brasil a ter instalado como pacote tecnológico opcional o sistema Boat Switch da Garmin, que controla todas as funções e amenidades do barco de forma digital, touch screen.
A visibilidade é muito boa nas quatro direções, sem obstáculos estruturais, como ocorre nas lanchas HT na hora de fazer curvas muito fechadas. Os estofados, segundo o estaleiro, foram confeccionados com costura tripla, técnica avançada que envolve três camadas de tecido juntas, resultando em um revestimento reforçado, forte o suficiente para suportar o desgaste e a lavagem frequente.
O volante, personalizado, tem uma pegada bastante esportiva e personalizada. E há suportes para os pés, o que é bom para navegadas mais longas.
O painel tem bastante espaço para duas ou até três telas e, ainda, para um eletrônico de instrumentos do motor. Por sua vez, o rádio VHF e as botoeiras estão ao alcance das mãos. Ou seja, tudo é bem resolvido. Mas falta um nicho para guardar objetos de uso pessoal (o popular porta-trecos). Sempre damos muita importância a isso porque, nos dias de hoje, não há quem não ande com um celular.
Um acesso lateral por dentro do cockpit da Mestra 322, com dois grandes degraus, a bombordo, leva de forma segura e confortável ao solário de proa. Ou seja, não há corredores laterais externos (muitas vezes estreitos) nem a tradicional passagem central através do para-brisa.
Desse truque inteligente resulta um melhor aproveitamento do espaço interno — e muito mais segurança. Os degraus são bem grandes e, em um dia muito cheio de gente, podem até ser usados como “bancos” extras.
Já lá na proa da Mestra 322, o solário é bem protegido, com encosto de cabeça reclinável, acomoda três pessoas, sem apertos. O detalhe é que o solário está deslocado para boreste. Com isso, a bombordo, sua extremidade também pode ser usada quase como um banco, uma vez que ele fica em uma posição mais elevada que o convencional, permitindo que ocupantes consigam ficar sentados em seu beiral.
A lancha tem pega-mãos fixos, apoios de braços nos bordos, porta-copos e saídas de som. O bico de proa é sextavado, em vez de afiado, o que aumenta o espaço a bordo próximo à área operacional. E tudo é bem protegido pela pequena amurada e pelo guarda-mancebo.
Na casa de máquinas da Mestra 322 está uma boa amostra de como o estaleiro se preparou para dar um salto de faixa, passando a construir barcos maiores. As canaletas junto às tampas são profundas, para evitar a entrada de água. O banco de baterias é ventilado. Os pontos básicos da manutenção, como os filtros e varetas dos motores, estão bem acessíveis.
Os dois extintores estão à mão. Há dois exaustores para expulsão de eventuais gases. A instalação elétrica tem fios estanhados, como deve ser, e as bombas de porão têm dispositivo automático de acionamento. Por sua vez, o tanque de combustível (feito sob medida, pré-montado), de 400 litros, é muito adequado para um barco desse tamanho. O de água doce, de 120 litros, aceitável, mas um de 150 l seria melhor para um barco deste porte.
Na plataforma de popa, o teste da Mestra 322 encontrou um espaço gourmet com tudo o que pode esperar para uma gostosa experiência gastronômica: churrasqueira (a carvão ou elétrica), tábua de corte, pia com torneira rebatível e cuba de inox, geleira, porta-objetos e pega-mão de inox.
O móvel tem um espelho no verso da tampa, que é de madeira, com acionamento por pistões hidráulicos. E ainda há encaixe para um guarda-sol (ombrelone), o que melhora ainda mais a receita.
A plataforma de popa da Mestra 322 — com tomada de cais, bocal de abastecimento de água, escada de quatro degraus e chuveirinho de água doce — é grande, mas sem ser exagerada: o estaleiro tomou o cuidado de não desequilibrar o projeto. Decisão mais que acertada.
As plataformas de popa estão cada vez maiores, mais completas e mais ousadas. Os usuários, é claro, adoram. Ainda mais os brasileiros, que tanto prezam o contato com a água. Porém, não se deve abusar na hora de projetar e aumentar essa parte saliente do casco, sob o risco de a popa ficar mais funda que o normal, com consequências bastante negativas para a navegação.
No caso da Mestra 322, a plataforma foi projetada junto com o próprio barco, e não acrescentada depois, tendo como referência o centro de gravidade do barco. Não por acaso, neste teste, na Baía de Guanabara, a lancha correspondeu plenamente à expectativa.
Navegação da Mestra 322
Navegando tanto nas águas interiores, com mar picado, como fora da barra, com ondas baixas, mas curtas, em torno de meio metro de altura, e ventos na casa dos 9 a 12 nós, a Mestra 322 navegou fácil, muito leve, cortando bem as vagas em várias direções, sem pancadas bruscas nem respingos no cockpit.
Realizamos várias manobras, entre 24 e 29 nós, e o conjunto casco-motor se mostrou equilibrado, ágil e (às vezes) até nervoso. Você chama e o barco vem. Se você fechar na curva, ele vai adernar, vai te entregar, e o sistema Zipwake de flaps — opcional muito bem-vindo e recomendado — manterá a proa enterrada, conservando a linha do casco no melhor aproveitamento.
Durante o teste da Mestra 322, navegamos com duas pessoas a bordo, 70% de combustível e tanque de água praticamente cheio (com cerca de 90% de sua capacidade). Durante o percurso, abaixamos um pouco os flapes, forçando a proa para baixo, a fim de cortar melhor as ondas. A favor delas, porém, recolhemos os flapes e aumentamos a velocidade e a lancha se comportou igualmente bem.
No teste de aceleração, a Mestra 322 foi da marcha lenta aos 20 nós (37 km/h) em 7,9 segundos, uma boa marca. A velocidade máxima ficou em 33,8 nós, desempenho muito bom para um barco com peso total de 3.500 quilos, com motorização única, gasolina, de 380 hp, Mercruiser 8.2L MAG, impulsionado por uma rabeta Bravo III, de hélices contrarrotantes.
A 4.000 rpm, navegando na velocidade econômica, que foi de 26,2 nós, ela obteve sua melhor autonomia: 139,5 milhas náuticas.
Versátil na motorização, a Mestra 322 pode ser equipada com um centro-rabeta de 380 hp, a gasolina; dois diesel de 220 hp cada ou dois popas de até 250 hp cada.
Muito respeitado pela qualidade de suas construções, o estaleiro Mestra Boats, com sede na cidade de Pederneiras, no interior de São Paulo, recentemente (no São Paulo Boat Show 2023) lançou sua primeira lancha HT, a Mestra 352, com 35 pés.
Saiba tudo sobre a Mestra 322
Pontos altos
- Espaço e boa distribuição no cockpit e cabine;
- Qualidade dos acabamentos e estofamentos;
- Navegação extremamente ágil;
Pontos baixos
- Tanque de água um pouco pequeno;
- Iluminação fraca no banheiro;
- Não tem box fechado para banho;
Características técnicas
Comprimento total: 10 metros
Boca: 3,00 m
Calado mín.: 0,52 m
Calado máx.: 0,84 m
Ângulo V do casco: 19°
Peso sem motor: 3.500 Kg
Motorização: centro-rabeta ou popa
Potência: 1 x 380 a 2 x 250 hp, a gasolina, ou 2 x popa de 250 hp cada
Tanque combustível: 400 litros
Tanque de água doce: 120 litros
Capacidade dia: 14 pessoas
Capacidade noite: 4 pessoas
Altura cabine: 1,90 m
Altura do banheiro: 1,85 m
Consultor técnico: Guilherme Kodja
Edição de texto: Gilberto Ungaretti
Fotos: Victor Oliveira e Rogério Pallata
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