Navegar para descobrir: oportunidades para o turismo náutico no Brasil
Especialista no tema, Bianca Colepicolo analisa obstáculos para setor e propõe soluções para crescimento da área
Imagine navegar pelo mundo, explorando diferentes culturas, paisagens e desafios. Parece um sonho distante? Não para milhares de pessoas que, neste exato momento, estão cruzando oceanos a bordo de seus veleiros. O conceito de circum-navegação — dar a volta ao mundo navegando — é mais do que um desafio; é um estilo de vida e uma forma de turismo em crescimento.
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Famílias, amigos, casais e até velejadores solitários escolhem essa jornada, que combina a emoção da aventura com a imersão cultural. Esses viajantes fazem paradas estratégicas para reabastecer suas embarcações, realizar manutenções e, claro, conhecer profundamente os locais por onde passam.
Trata-se de um perfil de turista que valoriza experiências autênticas, contribuindo para o desenvolvimento sustentável das comunidades que visitam. Logo, o turismo náutico é fomentado — embora precise de mais oportunidades.
A costa brasileira: potencial e obstáculos
Com 8.500 quilômetros de litoral, o Brasil tem um imenso potencial para atrair navegadores do mundo todo. No entanto, algumas barreiras dificultam a plena realização desse potencial.
Por exemplo, enquanto muitos países oferecem estadias prolongadas para turistas náuticos, o Brasil limita o visto a 90 dias, insuficientes para quem percorre distâncias no ritmo de um veleiro. Uma extensão para 270 dias seria mais compatível com o tempo necessário para explorar nossa costa.
Além disso, a infraestrutura náutica do Brasil ainda precisa avançar. Marinas públicas — verdadeiros “hotéis para barcos” com segurança, água doce e energia elétrica — são raras.
A ausência de locais adequados para pernoite segura muitas vezes força os navegadores a ancorar em condições precárias ou a buscar alternativas em outros países.
A burocracia também é um desafio. Para entrar no Brasil por mar, é necessário passar por três órgãos distintos — Marinha, Polícia Federal e Receita Federal — cada um com processos próprios.
Embora iniciativas como o SAC Náutico de Salvador, que unifica esses serviços em um único ponto, representem avanços importantes, o país ainda carece de oportunidades e soluções integradas e acessíveis a favor do turismo náutico, incluindo atendimento em línguas estrangeiras.
Exemplos inspiradores e ações necessárias
Histórias como a de um casal de franceses que, após velejarem pelo Brasil, retornaram em um cruzeiro e, em uma terceira visita, decidiram explorar todo o litoral, mostram o encanto que nossa costa exerce sobre quem a conhece.
Entretanto, para transformar visitantes ocasionais em embaixadores de nosso turismo náutico é preciso investir em políticas e oportunidades que facilitem a chegada, permanência e circulação desses viajantes. Isso inclui:
- Revisão das políticas de visto: ampliar a permanência permitida para velejadores;
- Investimento em infraestrutura: construir e modernizar marinas públicas e privadas;
- Simplificação de processos: expandir o modelo do SAC Náutico para outros portos e capacitar servidores em idiomas estrangeiros;
- Promoção internacional: posicionar o Brasil como destino de excelência para o turismo náutico.
Oportunidade no turismo náutico para o futuro
O turismo náutico não é apenas uma oportunidade econômica, mas também uma possibilidade e meio de promover a cultura e a beleza do Brasil de forma sustentável.
Enquanto outros países já reconhecem o valor desses “turistas qualificados”, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para se tornar um destino competitivo.
Facilitar a chegada de velejadores é, acima de tudo, abrir as portas para que o mundo descubra o que o Brasil tem de melhor. Nossa costa já encanta — o desafio agora é garantir que todos queiram (e consigam) voltar.
Mestre em Comunicação e Gestão Pública, Bianca Colepicolo é especialista em turismo náutico e coordena o Fórum Náutico Paulista. Autora de “Turismo Pra Quê?”, Bianca também é consultora e palestrante.
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