Plastisfera: poluição plástica nos oceanos gerou novo ecossistema potencialmente perigoso

Impactos do biofilme gerado por bactérias em resíduos foi estudado na Antártica, um dos ambientes mais remotos do mundo

10/01/2025
Foto: melis82 / Envato

A poluição plástica tem atingido níveis estratosféricos. Até mesmo os lugares mais remotos do planeta sofrem com a contaminação. Prova disso é que, na Antártica, cientistas estudam um novo fenômeno: a plastisfera.

O estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Barcelona e publicado na Science Direct aponta que, no ambiente marinho, os microplásticos formam uma superfície rapidamente colonizada por microrganismos, formando um biofilme. Apontada como um novo tipo de ecossistema potencialmente perigoso, ela ganhou o nome de plastisfera.

Foto: SteveAllenPhoto999 / Envato

A plastisfera se desenvolve por meio de uma sucessão ecológica típica, tornando-se, por fim, uma comunidade microbiana complexa e especializada.

 

Uma vez formada, essa comunidade pode afetar o equilíbrio natural da vida oceânica em nível microscópico, já que o plástico permite que patógenos potencialmente prejudiciais se espalhem pelos ambientes marinhos.

 

Levantamentos apontam que o mundo gera cerca de 360 ​​milhões de toneladas de plásticos por ano, enquanto apenas 7% dele é reciclado. Como o material está espalhado por todos os cantos do mundo, isso significa que até as áreas mais remotas e intocadas são atingidas.

Como foi feita a pesquisa na Antártica

Para os pesquisadores Pere Monràs i Riera e Elisenda Ballesté, que participaram do estudo, descortinar os mistérios da plastisfera no Oceano Antártico era fundamental para “desvendar sua dinâmica” e “entender seus impactos em um dos ambientes marinhos mais remotos e vulneráveis do planeta”.

 

Assim, com as condições extremas do local — que incluem temperaturas congelantes, ventos fortes, icebergs e tempo limitado de trabalho — , os estudiosos optaram por gerenciar a pesquisa com um experimento controlado.

Foto: Studio_OMG / Envato

Para isso, montaram aquários cheios de água do mar coletada perto da estação de pesquisa espanhola na Ilha Livingston, nas Shetlands do Sul, e a preencheram com pequenos grânulos arredondados dos três tipos de plástico que mais comumente poluem o mar: polietileno, polipropileno e poliestireno.

 

Os materiais ficaram em condições ambientais (cerca de 0°C e recebendo de 13 a 18 horas de luz solar) por cinco semanas.


Ao compararem a colonização dos plásticos com a do vidro — uma superfície inerte –, os estudiosos descobriram um dos principais pontos da pesquisa: o tempo de mudança.

 

Isso porque os micróbios colonizaram rapidamente o plástico. Em menos de dois dias, bactérias como as do gênero Colwellia já estavam fixadas na superfície, o que indicou uma clara progressão dos colonizadores iniciais para um biofilme maduro e diversificado, incluindo outros gêneros como Sulfitobacter, Glaciecola ou Lewinella.

Foto: Addictive Dtock / Envato

Outro ponto de destaque foi que, embora processos semelhantes ocorram em outros oceanos, na Antártida ele parece ser mais lento, por conta das baixas temperaturas.

 

Por enquanto, os estudos sobre a plastisfera ainda estão no início, mas pesquisadores já preveem que as ações no biofilme podem ir, inclusive, para além das águas, afetando consideravelmente a forma como o oceano absorve carbono e produz gases de efeito estufa — ou seja, um impacto global.

Uma ponta de esperança

Em meio ao caos, há ainda uma ponta de esperança. Isso porque os estudiosos identificaram a presença de Oleispira sp. no polipropileno. Trata-se de uma bactéria com capacidade de degradar hidrocarbonetos, o que significa que ela pode decompor petróleo e outros poluentes. Seu papel na plastisfera é animador, uma vez que levanta questões sobre sua capacidade de reduzir os impactos da poluição por plástico.

 

Se essa habilidade for confirmada, essas bactérias poderiam se tornar uma ferramenta importante para proteger a Antártica e os oceanos. Porém, ainda há muito a ser estudado, principalmente sobre sua eficiência em ambientes extremos. Compreender melhor esses processos pode ainda ajudar a desenvolver soluções para lidar com o problema crescente do lixo plástico nos oceanos.

 

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