Ziraldo ajudou a defender as águas contra poluição, em parceria com NÁUTICA
Criador da campanha "Só jogue na água o que o peixe pode comer", maior cartunista do Brasil nos deixou, aos 91 anos
Desenhista, escritor, chargista, caricaturista e jornalista. Ziraldo construiu, em seus 91 anos de vida, uma carreira que marca seu nome na história das grandes personalidades do país. Além de obras literárias de grande sucesso, ele também ajudou a conscientizar os brasileiros contra a poluição das águas.
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No ano de 1998, Ziraldo criou o “peixinho” que estampa a campanha de NÁUTICA “Só jogue no mar o que o peixe pode comer”, ressaltando a importância do cuidado com o bem mais precioso do planeta em muitos pontos do litoral brasileiro.
Ernani Paciornik, presidente de NÁUTICA, teve a iniciativa de unir o talento do cartunista a uma causa nobre nas costas e lagos do país, levando muitas empresas a embarcarem na ideia da preservação das águas.
Ao longo de mais de 20 anos, a ação distribuiu brindes com a arte de Ziraldo estampando porta-copos, bolsas, toalhas e até boias, além de cartilhas educativas sobre o tema — você confere algumas das ilustrações desse material exclusivo feito por Ziraldo e NÁUTICA ao longo desse texto.
Ziraldo vibrava com a campanha. Todo mundo gostava de ter o adesivo no barco. Chegamos a distribuir 170 mil peças por ano na região de Angra dos Reis– relembra Ernani, sobre a parceria com o cartunista
O presidente de NÁUTICA conta ainda que Ziraldo “gostava de Ilha Grande (RJ) e passava as férias por lá”. Mais de 30 anos atrás, em uma dessas ocasiões, Ernani encontrou com Ziraldo por acaso em Botafogo, após um “chá de cadeira” de oito horas que levou de um executivo da região.
Nessas horas tive a felicidade de conhecer o Ziraldo. Conversamos por mais de 1h sobre barcos– ressalta Ernani
Ernani conta que, alguns anos depois, quando viu a poluição crescer nas águas de Angra dos Reis, decidiu fazer uma campanha de conscientização. “Liguei para o Ziraldo, que era o mágico de todas as crianças, e ele recebeu a ideia de braços abertos”, explica.
Um chá de cadeira que parecia ruim se tornou uma grande marca, que educou toda uma geração de pessoas– relembra Ernani, sobre o encontro que aconteceu por acaso.
Ziraldo não só apoiou a ação como viu nela a importância de comunicar diretamente as crianças, já que, segundo ele, conforme conta Ernani, “quem for atingido hoje, daqui 15 anos vai estar dirigindo alguma coisa e vai ter essa consciência.”
Em 1999, Ziraldo compôs o grupo de palestrantes da 1ª edição do Encontro Náutico Brasileiro, evento que aconteceu dentro do Rio Boat Show 1999, na segunda edição do salão náutico, na Marina da Glória.
Por lá, o cartunista mineiro criticou o descaso com que os oceanos eram tratados. Falando para uma plateia que incluía muitas crianças, Ziraldo disse que o povo brasileiro tem de mudar de atitude e respeitar o meio ambiente, como registrou a edição 130 da Revista Náutica, que cobriu o Rio Boat Show de 1999.
Ao longo dessa jornada talentosa, o mineiro Ziraldo Alves Pinto teve seu primeiro trabalho publicado quando ainda tinha seis anos de idade, em 1939, com um desenho no jornal “A Folha de Minas”. “O Menino Maluquinho”, seu trabalho de maior sucesso — considerado um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro em todos os tempos –, estreou em 1980.
Suas obras, contudo, foram muito além deste que era um de seus “sonhos infantis”. Ziraldo foi engajado em causas sociais, sendo um dos fundadores, nos anos 1960, do jornal “O Pasquim”, veículo contra a ditadura militar no Brasil.
Dormindo, o maior cartunista do país nos deixou no último sábado (6). Ele vivia em um apartamento no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro — recluso há alguns anos, por sua saúde fragilizada. A equipe de NÁUTICA presta condolências aos familiares, amigos e a todas as gerações de fãs de Ziraldo, um verdadeiro cara legal, como foi seu Menino Maluquinho.
* Texto: Bárbara Mattana e Denise de Almeida, da Revista Náutica
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