Mais de 6 mil milhas navegadas e 30 locais visitados: os números incríveis da Expedição Antártica
Jornada de 83 dias que virou série passou por surpresas, testou a tripulação em desafios e precisou de muito planejamento


Sair em expedição do Brasil rumo a Antártica em um veleiro, na teoria, já não parece tarefa fácil — mas um grupo resolveu enfrentar esse desafio na prática. Assim nasceu a série documental “Endurance 64: o veleiro polar”, no Canal NÁUTICA no YouTube. Nesta quinta-feira (17), esse especial chega ao seu último episódio e, para aquecer os motores, compilamos informações impressionantes dessa jornada.
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Os tripulantes zarparam do Porto de Santos, no Brasil, e encararam águas gélidas, frio cortante e a temida Passagem de Drake até pisar na Antártica, em uma viagem que durou 83 dias. Tudo isso a bordo do Endurance 64, um veleiro imponente de 64 pés de comprimento e casco de alumínio, que contou com motorização Yanmar para enfrentar esse desafio.
Foi Cícero Vieira, proprietário da embarcação, quem escalou o time diverso e habilidoso de navegadores para a expedição. Entre médico, documentarista, meteorologista e velejadores experientes, nove pessoas compuseram a equipe, que recebeu outros três tripulantes ao longo do percurso.
Expedição rumo a Antártica: milhas repletas de destinos deslumbrantes
O caminho rumo ao continente mais inóspito do planeta rendeu à tripulação do Endurance 64 cerca de 6,5 mil milhas navegadas, chegando à latitude máxima de 64º 58’.


O percurso envolveu destinos deslumbrantes, repletos de histórias e particularidades. Ao todo, foram 30 locais visitados, passando por quatro países: Brasil, Uruguai, Argentina e Chile — além das Ilhas Falkland e, claro, da Antártica. Veja o panorama:
Brasil
- Guarujá (SP);
- Santos (SP);
- Rio Grande (RS).
Uruguai
- Punta del Este.
Argentina
- Estância Haberton;
- Mar del Plata;
- Península Valdés;
- Puerto Madryn;
- Ushuaia.
Chile
- Caleta Brecknock;
- Caleta Cinco Estrellas;
- Caleta Morning;
- Canais da Terra do Fogo;
- Estreito de Magalhães;
- Glaciares Pia e Romanche;
- Isla de Hornos;
- Puerto Toro;
- Puerto Williams;
- Punta Arenas.
Ilhas Falkland
- Volunteer’s Point.
Continente antártico
- Baía Dorian;
- Canais (Beagle, Gerlache, Lemaire, Neumeier e Peltier);
- Ilha Deception;
- Ilha Enterprise;
- Ilha Rei George;
- Port Lockroy.
Destaques
Entre tantos lugares, a tripulação chegou, inclusive, no “fim do mundo” ao explorar Ushuaia, na Argentina, e Puerto Williams, no Chile — destinos no pedacinho final das Américas que rendem o apelido.


A primeira parada em solo antártico também foi em grande estilo, na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). Trata-se de uma base pertencente ao Brasil e localizada na ilha do Rei George, a 130 quilômetros da Península Antártica, na baía do Almirantado.


Ainda no continente gelado, a Deception Island, um dos pontos mais curiosos da Antártica, foi um dos locais visitados pela tripulação. O local é o interior de um antigo vulcão adormecido, em formato circular, acessível apenas por embarcações menores, como veleiros.


Desafios do mar
Quando se trata do mar, os desafios são sempre imprevisíveis — e a tripulação do Endurance 64 não escapou dos problemas a bordo. Dentro do barco ou fora dele, foi preciso manter a calma e contar com o trabalho em equipe para seguir viagem.
Entre reviravoltas meteorológicas e mudanças de cronograma, um problema grave no motor já na primeira pernada rumo à Antártica deixou o grupo em alerta. Após remediações feitas com base em um treinamento oferecido pela Yanmar, a tripulação precisou instalar uma válvula no duto de escapamento do equipamento, para evitar que o motor continuasse a alagar.


Fortes emoções vieram também no caminho rumo à Deception Island, no arquipélago das Shetland do Sul. Além da rota contar com blocos de gelo de tamanhos imprevisíveis, a carta náutica da área é escassa em detalhes, o que obrigou a tripulação a se basear em mapas alternativos, elaborados por tripulações de expedições anteriores.
Como se não bastasse, a navegação passou por momentos de tensão devido a uma séria contaminação no diesel, que fez o motor do veleiro parar. O grupo mudou os planos a tempo de evitar o isolamento forçado, que seria causado por uma forte mudança climática que manteria a tripulação presa por pelo menos três dias em Deception.


A Passagem de Drake, conhecida por zonas com as piores condições meteorológicas marítimas do mundo, não mostrou seu potencial no caminho de ida à Antártica — o que não se repetiu na volta. A tripulação precisou enfrentar tempestades, ondas agitadas e altas doses de adrenalina.
Despesas e planejamento
Uma expedição como essa não se faz do dia para a noite. Antes de ganhar a Antártica, o próprio Endurance 64 passou por uma reforma, ainda em 2021. A equipe também precisou custear despesas com diesel, manutenções periódicas do motor, alimentação, seguro internacional e internet, via Starlink.
De acordo com o grupo, o planejamento, a gestão de risco e as formalidades incluíram itens como:
- Matriz com 13 principais riscos e planos de resposta;
- Contrato assinado por todos os tripulantes, descrevendo os riscos, as funções e as responsabilidades;
- Autorização da Marinha do Brasil com base em dossiê de 40 páginas sobre o veleiro e os tripulantes;
- Dotação médica completa, comparável a um navio da Marinha;
- Drones, câmeras profissionais, câmeras 360, mini hover subaquático e diversos tripulantes captando imagens para documentário.
A tripulação
Ao todo, 12 pessoas integraram a tripulação do Endurance 64 ao longo dos 83 dias de expedição. Conheça cada um deles:
- Cícero Vieira;
- Nelson Barretta;
- Marcos Hurodovich;
- Gabriel de Capitani;
- Fabio Raimo;
- Guilherme Kodja;
- Waldemar Oliveira;
- Giovanni Dolif;
- Cesar Mello;
- Rogério Lira;
- Eduardo Colombo;
- Francisco Petrone.
Uma grande viagem traduzida em livro
As histórias do mar rompem barreiras e chegam a ouvidos apurados através de conversas, experiências, vídeos, documentários e, claro, por um dos meios mais tradicionais já inventados: os livros.


Cícero Vieira, capitão da tripulação do Endurance, foi o responsável por traduzir em palavras toda a jornada do Brasil ao continente gelado no livro “O Veleiro Polar Endurance 64 na Antártica e Outras Histórias Austrais”.
Ele, que foi à Antártica pela primeira vez como alpinista há 31 anos, descreve em cerca de 350 páginas as particularidades do local. O material começa retratando a história da exploração brasileira no continente, com foco nas primeiras pessoas a enfrentarem esse desafio.
É um material relativamente inédito, contando a história da exploração brasileira na Antártica sob a perspectiva dos pioneiros– explicou ele à NÁUTICA
Na segunda parte da obra, as páginas traduzem a história da expedição propriamente dita, com todos os processos que envolveram a viagem mesmo antes de ela começar. “Foi um processo super longo e complexo de um ano e meio reformando o veleiro”.
Cícero passa por detalhes desde como foi escolher a tripulação, o modelo de financiamento da expedição, o gerenciamento de risco dessa empreitada, negociação com patrocinadores e até como foi a escolha do cardápio a bordo. O livro, repleto de fotos da expedição, foi escrito ao longo de um ano, logo após a viagem.
Foi um processo terapêutico. Você volta de uma expedição dessas com muitas emoções, energia acumulada e histórias na cabeça– descreveu
A obra em breve será disponibilizada na Amazon. Por ora, quem quiser adquirir um exemplar pode encomendar o livro diretamente com Cícero, através do telefone: (11) 99970-1922 ou do Instagram @veleiro_polar_endurance_64.
Endurance 64: o veleiro polar — episódio final
A série que retrata a expedição do Brasil rumo à Antártica tem encantado amantes do mar. O último episódio chega ao Canal NÁUTICA no YouTube nesta quinta-feira (17). Até lá, através da playlist NÁUTICA TRIP, é possível maratonar os 12 episódios disponíveis. Assista desde o começo:
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