Olhar para a água: o impacto de estruturas náuticas na transformação de uma cidade
Especialista no assunto, Bianca Colepicolo analisa como territórios podem, aos poucos, criar uma cultura náutica


Instalar uma simples rampa de acesso ou um pequeno píer à beira de um rio, represa ou trecho de mar pode parecer um gesto modesto diante das complexidades urbanas. Mas, na prática, esse movimento em prol da água costuma marcar o início de uma revolução silenciosa, porém profunda, na cultura, na economia e na relação das pessoas com uma cidade ou território.
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Historicamente, muitas cidades cresceram de costas para seus corpos d’água. O espaço náutico ficou restrito a poucos privilegiados ou foi tratado como zona de descarte, invisível para quem caminhava pelas ruas.
Mas basta criar uma estrutura de acesso — mesmo que simples — para que o olhar coletivo mude. A água volta a existir como paisagem, possibilidade e pertença.


Uma rampa para pequenas embarcações ou um píer de madeira bem posicionado faz com que crianças e idosos se aproximem da água, que moradores passem a sonhar com canoas, caiaques ou barquinhos, que turistas tirem fotos e que o comércio local descubra uma nova vocação.
O efeito dominó do acesso
Com o acesso, vem o uso. Com o uso, surgem as demandas. E é aí que a economia náutica local começa a pulsar.


A presença de embarcações, mesmo as mais simples, traz a necessidade de serviços como manutenção, reparo, pintura, guarda, aluguel e abastecimento. Profissionais que antes atuavam em outras áreas passam a se especializar nesse novo mercado.


Além disso, os jovens começam a enxergar oportunidades de formação técnica e geração de renda ligadas ao território. Empresas começam a se interessar por investir. E o mais interessante: tudo isso pode acontecer com um investimento relativamente baixo e alto impacto de retorno.
Consciência ambiental: do olhar à ação
Ao se aproximar da água, as pessoas inevitavelmente passam a enxergar também os problemas que a afetam: lixo flutuante, esgoto, desmatamento de margens. Assim, estruturas náuticas não apenas impulsionam a economia, mas também despertam uma nova consciência ambiental.


Um píer ou uma rampa bem projetados podem incluir painéis educativos, sistemas de coleta seletiva, sinalização ambiental e até tecnologias sustentáveis, como captação de água da chuva ou energia solar. Quando bem integrados ao contexto local, viram espaços de convivência e aprendizado.
Cultura viva e pertencimento
Por fim, é impossível ignorar o impacto cultural. A água, antes distante, volta a fazer parte do cotidiano simbólico da cidade. Festas náuticas, regatas populares, passeios educativos e até rituais religiosos ganham novos contornos com a presença de um espaço acessível e seguro. A identidade local se fortalece, e com ela, o sentimento de pertencimento.


Investir em estrutura náutica é mais do que abrir um acesso à água: é abrir caminhos para o desenvolvimento integrado, sustentável e afetuoso das cidades. E tudo pode começar com algo tão simples quanto uma rampa.
Mestre em Comunicação e Gestão Pública, Bianca Colepicolo é especialista em turismo náutico e coordena o Fórum Náutico Paulista. Autora de “Turismo Pra Quê?”, Bianca também é consultora e palestrante.
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