Estudo da USP revela que litoral de São Paulo tem 20 centímetros de elevação do nível do mar
Para conter avanço, prefeituras de regiões litorâneas planejam barreiras submersas, muros e preservação da vegetação
Mais um capítulo das consequências do aquecimento global foi escrito, dessa vez, no litoral paulista. Segundo estudo do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), o mar sofreu uma elevação de, pelo menos, 20 centímetros na região litorânea de São Paulo, desde os anos 1950 — no início da série histórica.
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O resultado não surpreende, visto que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já havia alertado sobre a possibilidade. Além disso, em novembro de 2023, a Organização das Nações Unidas (ONU) disse que a cidade de Santos pode perder até 5% de sua área habitável até 2050.
Segundo o estudo realizado pela USP, a elevação do nível do mar tem um culpado muito conhecido: o aquecimento global. Por conta dele, a temperatura dos oceanos tem aumentado e, consequentemente, causando o derretimento das geleiras e mantos de gelo em regiões montanhosas, como na Antártica.
Sendo assim, a frequência e intensidade dos eventos extremos no litoral — como as inundações — também aumentam, de acordo com o levantamento do IPCC. Vale ressaltar que 18% da população brasileira vive em regiões costeiras, que seriam justamente os lugares mais afetados por esse problema.
Ação das prefeituras contra a elevação do nível do mar
É de se imaginar que as prefeituras de regiões litorâneas não ficarão de braços cruzados diante deste avanço. Seja com muros, barreiras submersas ou preservação da vegetação, algumas cidades já trabalham contra a elevação do nível do mar desde 2016, como é o caso de Santos, no litoral sul de São Paulo.
A Prefeitura de Santos diz ter sido pioneira em criar um Plano Municipal de Mudanças Climáticas, sendo escolhida em 2018 para implementar o projeto-piloto junto a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na instalação de 49 geobags (barreiras submersas) na Ponta da Praia, bairro da cidade. Além disso, a administração conta ter várias parcerias e projetos para evitar que a cidade inunde.
Enquanto isso, as prefeituras de Guarujá e Mongaguá, ambas no litoral sul, apostam, respectivamente, na preservação da vegetação e na estratégia de construir muros para conter o avanço da elevação do nível do mar no litoral. As prefeituras de Praia Grande e Caraguatatuba — essa última, no litoral norte — disseram que, até o momento, não foi necessário nenhuma intervenção desse porte.
Ações das prefeituras podem ser problemáticas para a natureza
Apesar das boas intenções, a implementação de certas estratégias podem ser problemáticas para a natureza. Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da cátedra Unesco para sustentabilidade no oceano, explicou ao portal Metrópoles acreditar que toda intervenção humana no ambiente marinho leva a alguma alteração.
Praias com muros levam à extinção local de espécies. Quando se cria essas obras, os ambientes costeiros e manguezais ficam aprisionados no meio do caminho– Alexander Turra, em entrevista ao Metrópoles
Para Turra, a melhor maneira de evitar as consequências da elevação do nível do mar no litoral paulista — e também no contexto geral — seria realizar o planejamento do uso do território. Ou seja, não ocupar as áreas onde estão previstas inundações ou alagamentos.
Por fim, o especialista da USP ressaltou que o ser humano vem promovendo as mudanças climáticas há mais de 200 anos, e aponta que, com o forte agravamento nos últimos tempos, serão necessárias ações em médio e longo prazo para a situação ser revertida. Afinal, 20 centímetros de água não sobem do dia para a noite.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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