Ilha Montão de Trigo intriga turistas no litoral norte de São Paulo; conheça
Entre Bertioga e São Sebastião, nome da ilha tem história inusitada e aguça curiosidade de quem visita região
Quem frequenta o litoral norte paulista costuma ficar intrigado quando olha para o mar e, lá longe, vê uma pontuda ilha. E a curiosidade aumenta ainda mais quando se descobre que ela não só é habitada, como tem um nome curioso: Ilha Montão de Trigo.
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Poucos resistem à tentação de saber um pouco mais sobre ela, embora quase ninguém a visite. “Quando digo que moro na ilha, as pessoas logo começam a fazer perguntas”, conta o pescador Adilson de Almeida Oliveira, um legítimo “monteiro”, como se autodenominam os habitantes da Montão de Trigo.
Nascido lá mesmo, onde vive com mulher e dois filhos, o pescador diz que “querem saber tudo, principalmente como conseguimos viver em um lugar tão isolado. E eu respondo que, além de ótimo, é fácil.”
Como é a vida na Ilha Montão de Trigo
Os habitantes da Ilha Montão de Trigo vivem em casas simples, que usa compensados de materiais reciclados para a construção. Quase todos são parentes, já que os casamentos quase sempre acontecem entre primos e primas, tios e sobrinhas etc. Por isso, os poucos moradores da ilha têm quase sempre o mesmo sobrenome: Oliveira.
Toda a energia da Ilha Montão de Trigo vem de placas solares, mas elas não garantem o suficiente para todos os aparelhos, o dia inteiro.
A comunidade abriga casas, igreja, escola e um campo de futebol improvisado — onde, no entanto, é raro haver jogadores suficientes para formar dois times de verdade.
Na escola local, todos os alunos estudam juntos, não importa a idade, já que há uma única sala de aula. A professora, que mora no continente, chega à Ilha Montão de Trigo toda segunda-feira. Durante a semana, a escola é também a casa dela.
A Ilha Montão de Trigo tem praias?
Na Ilha Montão de Trigo não há praia. Ela é rodeada de pedras, algumas com impressionantes cortes, riscos e entalhes — feitos, ao longo de milênios, pela ação do mar e do vento.
As pedras também margeiam a sua piscina natural, onde o fundo de areia torna a água do mar ainda mais clara — o local faz o papel de “praia” da ilha, e é destino certo de dez em cada dez visitantes.
Mas, como não há praias nem atracadouro fixo, quem chega à ilha só pode desembarcar através do “portinho”, um curioso sistema de troncos roliços, sobre os quais os botes são puxados e deslizam pedra acima. Para fazer isso, é preciso autorização (e ajuda) dos ilhéus.
Por que a Ilha Montão de Trigo tem esse nome?
Embora a ilha tenha o formato de uma pirâmide e, quando vista de longe, lembra bastante um “monte feito de farinha”, a origem do seu curioso nome, segundo os próprios moradores, não tem nada a ver com a sua silhueta.
O nome, na verdade, vem do naufrágio de um barco carregado de trigo nas proximidades da ilha, séculos atrás, o que gerou pilhas de sacas de farinha trazidas para terra firme — daí o “montão de trigo”.
“Meu avô sempre me contou isso”, garante o pescador Adilson, apesar de não haver provas concretas da história, tampouco da origem dos primeiros habitantes da ilha.
Reza a lenda que teriam sido dois irmãos portugueses que, 300 anos atrás, foram viver lá com duas índias, dando origem à hoje onipresente família Oliveira, sobrenome de praticamente todos os moradores da ilha.
A Ilha Montão de Trigo pode ser visitada?
Sim, é permitido se visitar a Ilha Montão de Trigo, mas convém pedir autorização de algum morador. Embora a ilha não pertença a eles (e sim à Secretaria do Patrimônio da União), desde 2012 os moradores da Montão de Trigo têm o direito de uso exclusivo da ilha. Foi o primeiro caso de concessão de um Termo de Autorização de Uso Sustentável para os moradores de uma ilha.
Os monteiros, porém, não podem vender suas casas — apenas usá-las, com a garantia de que ninguém poderá tirá-los de lá. Para viver lá, só mesmo nascendo na ilha ou se casando com um dos seus moradores.
Onde fica a Ilha Montão de Trigo?
A Ilha Montão de Trigo fica a cerca de uma dúzia de quilômetros da costa do litoral norte de São Paulo, na altura de Barra do Una, na metade do caminho entre Bertioga e São Sebastião.
Para conhecê-la, a melhor maneira é procurar um dos barqueiros da ilha na praia de Barra do Sahy, onde eles fazem ponto à espera de turistas, ou alugar um barco ou fretar um passeio a partir das marinas de Barra do Una.
A ilha tem trilhas e uma delas leva ao cume do monte, que fica a quase 300 metros de altura. Mas é uma subida um tanto puxada, que exige mais de duas horas de caminhada pela Ilha Montão de Trigo. A recompensa é uma vista estupenda de praticamente todo o litoral norte paulista. Nos dias mais claros, dá para ver até Ilhabela lá de cima.
Tem sinal de celular na Ilha Montão de Trigo?
O topo do monte (que, em síntese, é a própria ilha) guarda algumas torres retransmissoras de sinais, o que torna a isolada Montão de Trigo um dos pontos mais conectados do litoral paulista, apesar do seu isolamento.
Dessa forma, os celulares pegam maravilhosamente bem em toda a ilha e os pescadores usam os aparelhos até para avisar os colegas da aproximação de cardumes no mar. Sinal de internet também não falta.
Do que vivem os moradores da Ilha Montão de Trigo?
Os moradores da Ilha Montão de Trigo vivem, praticamente, só da pesca, que é praticada ali mesmo, já que as águas da ilha são repletas de peixes. Entre as espécies mais fartas estão as garoupas, sororocas, lulas e bicudas — o peixe mais tradicional da ilha.
As refeições na ilha são tipicamente caiçaras, com arroz com peixe e banana. O que não é consumido pelos moradores, os monteiros levam para vender em Barra do Una, a localidade do continente mais próxima da ilha, a cerca de seis milhas náuticas — ou meia hora de barco.
Como não há refrigeradores na ilha para conservar os peixes capturados, os pescadores tratam de vendê-los rapidamente — ou mantê-los vivos, em tambores dentro d’água. Nos dois casos, é garantia de peixe sempre fresco para quem for comprá-los.
Os monteiros passaram a ganhar algum dinheiro também levando turistas da Barra do Sahy para a linda praia quase vizinha às Ilhas, atividade que eles chamam de “fretes”. Mas, para o Montão de Trigo quase nunca levam alguém, uma vez que poucos se interessam em ir até lá. Só querem mesmo saber como é a vida na intrigante ilha.
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