Cemitério de cruzeiros? Entenda como acontece o desmanche de navios aposentados
Processo deve ser realizado em ambiente legalizado, mas preferência por locais clandestinos oferece riscos e já levou a mortes
Não é raro se deparar com notícias sobre lançamentos de cruzeiros estampadas nos portais, mas pouco se fala sobre como acontece o desmanche desses navios luxuosos ao alcançarem os últimos momentos de vida útil. A boa notícia é: NÁUTICA te explica!
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A forma correta de desmantelar as embarcações envolve a escolha de locais que dominam a prática de forma legal e responsável, evitando prejuízos para o meio ambiente. Alguns deles ficam em Aliaga, na costa da Turquia, conforme lista criada pela União Europeia.
Um dos ‘cemitérios de cruzeiros’ especializado em reciclagem naval na cidade recebeu grandes navios de renome, como os da Pullmantur, que decretou falência em 2020, durante a pandemia de Covid-19.
Na época, a empresa vendeu ao local dois cruzeiros, incluindo o Sovereign — conhecido por aqui como Soberano — que ostentou o título de maior navio do mundo quando foi lançado, em 1988. Ícones da grande linha de cruzeiros Carnival Corporation também deram seus suspiros finais na Turquia.
Nesses locais de desmanche de navios, são reaproveitados partes de aço, ferro, alumínio e plásticos. Até mesmo os acessórios não metálicos que estavam nas embarcações são guardados, já que muitos hoteleiros vão ao estaleiro para comprar materiais úteis.
O maior problema é que a grande maioria dos desmanches de navios é realizada de forma clandestina, sem qualquer cuidado com o meio ambiente ou segurança para os trabalhadores.
Não à toa que, desde 2009, foram registradas mais de 449 mortes em funções como essa, segundo aponta a ONG Shipbreaking Platform.
Desmanche ilegal de navios é problema sério
De acordo com a ONG — que busca reverter violações ambientais e sociais que a prática gera no mundo todo — os países que mais recebem navios para desmanche indevido são Bangladesh, Índia e Paquistão.
O processo é feito diretamente na praia, em vez de em um local industrial, e envolve o encalhe voluntário da embarcação. Mais de 8 mil barcos já passaram por isso nos últimos 15 anos, por conta de empresas que dão preferência à maximização de lucros — uma vez que a prática clandestina chega a custar cem vezes menos do que a legal.
Estima-se que, a cada ano, cerca de 500 navios comerciais oceânicos cheguem ao fim de sua vida útil. Imagine, então, o estrago que podem fazer, já que a maioria possui inúmeros materiais tóxicos em sua estrutura, como:
- Amianto, um dos mais comuns e perigosos;
- Metais pesados, como chumbo, mercúrio e cobre;
- Óleos e combustíveis tóxicos;
- Outros diversos.
Além de contaminarem áreas costeiras — e, consequentemente, afetarem a vida marinha, incluindo peixes usados para consumo humano — essas substâncias provocam uma série de doenças nos trabalhadores, que vão de diferentes tipos de câncer a retardo mental e problemas hepáticos.
Isso sem contar que a população, no geral, corre risco quando peças de navios são vendidas no mercado de segunda mão, com procedência duvidosa.
Problema social
Os trabalhadores do desmanche ilegal de navios são praticamente escravizados, segundo a Shipbreaking Platform. Com as próprias mãos, devoram os gigantes navios aos poucos, até que não sobrem vestígios deles nas areias.
Na maioria das vezes, não contam com equipamentos de proteção ou salário digno.
O desmantelamento de navios se tornou um grande problema de saúde ocupacional e ambiental no mundo. Está entre as ocupações mais perigosas, com níveis inaceitavelmente altos de fatalidades, ferimentos e doenças relacionadas ao trabalho– Organização Internacional do Trabalho (OIT)
A solução para o problema, para a ONG, passa por fiscalização acirrada, garantia de direitos trabalhistas e desmanches realizados em docas secas e cais, onde resíduos oleosos e perigosos serão armazenados e tratados.
Esse último passo envolve a transição de local até mesmo por parte dos desmanches legalizados. A expectativa é de que a meta seja alcançada até 2030.
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