Estudo detecta primeiros sons emitidos por tubarões; ouça
Espécie cação-pintado-de-estuário é capaz de produzir "estalos" que podem ser nova forma de comunicação


Cachorros latem, gatos miam e galinhas cacarejam. Mas qual som um tubarão faz? Um estudo conseguiu responder essa questão, e revelou uma espécie do predador que é capaz de produzir ruídos semelhantes ao clique de um mouse.
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A pesquisa foi publicada na revista Royal Society Open Science, por uma equipe de estudiosos da Nova Zelândia. Os cientistas registraram evidências do cação-pintado-de-estuário (Mustelus lenticulatus) “clicando” seus dentes. Ouça o som produzido pelo animal:
O estudo revela uma nova forma de comunicação entre os tubarões, que carregam a fama de “assassinos silenciosos”. Isso porque esses predadores carecem de órgãos produtores de som, facilmente encontrados em outros peixes, que grunhem, gemem e até latem.
Ao contrário da maioria dos peixes, que dependem de uma bexiga natatória (órgão cheio de gás que os ajuda a manter a flutuabilidade, além de produzir e detectar sons), os tubarões não possuem essa característica. Assim, a produção de barulho se torna improvável.


Segundo o portal Science, o primeiro registro de ruído detectado em peixes cartilaginosos (que inclui tubarões, raias e quimeras) aconteceu em 1970, quando pesquisadores relataram estalos enquanto cutucavam uma arraia-focinho de-vaca (Rhinoptera bonasus) em cativeiro.
Desde então, os estudos que “caçam” sons em tubarões tiveram poucos avanços. Por muito tempo, acreditava-se que o silêncio poderia ser uma adaptação evolutiva que tornava o predador ainda mais habilidoso, sem chamar a atenção das presas.


De acordo com Neil Hammerschlag, presidente da Atlantic Shark Expeditions e diretor-executivo da Shark Research Foundation — que não participou da pesquisa — , até este estudo, a comunicação dos tubarões se dava principalmente através da linguagem corporal e possíveis sinais químicos.
O tubarão cação-pintado-de-estuário, em específico, mede de 0,7 a 1,5 metro, e costuma habitar a costa da Nova Zelândia, onde se alimenta, principalmente, de caranguejos e outros crustáceos.
Eles sabem “falar”
O estudo foi liderado por Carolin Nieder, investigadora pós-doutoral no Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Massachussetts, e envolveu 10 cações-pintados-de-estuário juvenis — cinco machos e cinco fêmeas — capturados na costa da Nova Zelândia.


Durante a pesquisa, quando os tubarões eram movidos de um tanque de laboratório marinho para outro, ou quando os cientistas os seguravam, os animais começaram a emitir o som de clique, que teve uma duração extremamente curta, de 48 milissegundos — mais rápido que um piscar de olhos humano.
Inclusive, os cientistas não têm certeza se os tubarões conseguem ouvir o seu próprio som, já que a frequência principal está na faixa de 2.400 a 18.500 hertz — bem acima da média de audição deste animal, de 150 a 800 hertz. Porém, o pulso inicial baixo permite que a espécie consiga detectar o barulho.
Segundo Nieder, conforme os animais se habituavam ao protocolo experimental diário, eles paravam de fazer os estalos, “como se tivessem se acostumado ao cativeiro e à rotina experimental”. Foi nesse momento que ela percebeu que estava observando, de fato, um novo som.
De acordo com a pesquisa, cerca de 70% dos cliques ocorriam quando o tubarão balançava lentamente de lado a lado. Outros 25% aconteciam em movimentos explosivos, enquanto 5% vinham quando o animal não estava movendo seu corpo — pelo menos, não de maneira óbvia.


Os ruídos foram gravados em ambiente laboratorial controlado, e agora os pesquisadores querem descobrir se os cações-pintados-de-estuário produzem esses barulhos na natureza — e em quais condições. Também ainda não está claro se outros tubarões emitem som, embora Nieder acredite que sim.
Embora não saibamos realmente se o som produzido pelos cações-pintados-de-estuário foi simplesmente um subproduto do manuseio, isso abre algumas novas questões, possibilidades e caminhos para pesquisas futuras– Carolin Nieder
Tubarão, que som é esse?
Já que não há órgãos especializados em produzir som nesses animais, os cientistas confiam que os cliques, na verdade, vêm de seus dentes fortes e interligados, batendo um nos outros. Logo, o caso foi documentado como o primeiro de um tubarão fazendo sons deliberadamente debaixo d’água.


O padrão consistente e a frequência dos cliques sugerem que os sons são intencionais, em vez de acidentais, segundo Carolin. Porém, ainda não se sabe o motivo exato para que os tubarões dessa espécie emitam esses cliques.
Há a possibilidade de que esse barulho sirva como um sinal de angústia, em reação ao manuseio do experimento. Se eles não estão usando suas capacidades vocais para se comunicar entre si, os estalos podem ser um sinal de alerta ou forma de agressão em torno de presas perigosas, segundo os pesquisadores.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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