Tartarugas podem ajudar a mapear fundo do oceano melhor do que imagens de satélite; entenda
Na busca por ervas marinhas, animais ajudaram cientistas a encontrar mais de 10 novas manchas, segundo pesquisa
Sempre foi uma enorme dificuldade para os cientistas mapear o fundo do oceano. Já que a luz mal penetra em certas profundidades, realizar o estudo de ervas marinhas, por exemplo, se torna uma missão ingrata. Até que os estudiosos pensaram: “por que não usar uma tartaruga?”.
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Calma, explicamos. Ervas marinhas são organismos cruciais na conservação da biodiversidade marinha, além de ajudarem na captação de carbono feita pelos oceanos — o chamado “carbono azul”. Porém, encontrá-las não é uma tarefa fácil, pois onde a maioria está localizada nem sequer as imagens de satélite alcançam.
Até que veio a ideia: se há animais que vão até as ervas marinhas, por que não segui-los? Dito isso, eles rastrearam as tartarugas-marinhas por um ano, e o resultado foi surpreendente: se obteve mais assertividade com apoio delas do que com as imagens de satélite.
A equipe de Hugo Mann, ecologista marinho da King Abdullah University of Science and Technology, marcou 53 tartarugas-marinhas em quatro praias do Mar Vermelho, na Arábia Saudita. Uma vez que elas nadassem para longe, suas coordenadas seriam passadas para os satélites assim que os animais emergissem para respirar.
Durante o processo, os cientistas começaram a presumir algo curioso: quando o caminho de uma tartaruga se cruzava várias vezes no mesmo local, os cientistas presumiam que haviam ervas marinhas naquele local. E não é que deu certo? O estudo foi publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B.
Certeiras e confiáveis
O resultado dessa grande ideia rendeu frutos. No total, foram 43 manchas de ervas marinhas que nunca haviam sido registradas antes. Além disso, 1/3 delas estava abaixo dos 8 metros de profundidade — a ponto de não ser identificável para a maioria das imagens de satélite.
Para checar se as tartarugas realmente estavam certas, os pesquisadores foram averiguar de perto. Assim, eles viajaram de barco para 22 dos locais identificados como novos e confirmaram ervas marinhas em todos os lugares que olharam, totalizando 14 distintas — embora algumas sejam parte de uma grande mancha.
Então, para fazer a comparação com o método de imagens de satélite, os pesquisadores viajaram para 30 manchas identificadas por um mapa baseado em sensoriamento remoto, chamado Allen Coral Atlas. Neste método, apenas 40% delas tinham ervas marinhas.
Além disso, os cientistas estimam que, somando todas as ervas marinhas encontradas pelas tartarugas, os locais armazenam cerca de 4 teragramas de carbono — quase equivalente ao que 900 mil veículos de passageiros emitem por ano.
Ótimo, mas não perfeito
Segundo James Fourgurean, ecologista marinho e especialista em ervas marinhas da Flórida International University — que não estava envolvido na pesquisa — , os resultados são bons, mas não infalíveis. Ele aponta que as tartarugas podem evitar algumas manchas robustas se tiver predadores por perto, por exemplo.
Algumas tartarugas podem não comer ervas marinhas, mas sim microalgas, de acordo com o especialista. Para ele, o método “não é perfeito, mas é uma ótima maneira de obter um mapa preliminar, sair e verificar o que realmente está lá” — exatamente como o grupo de Mann fez.
Inclusive, o local escolhido (Mar Vermelho, na Arábia Saudita) se deu justamente pela sua deficiência de dados nesta parte do oceano. Assim como outros ecossistemas aquáticos, as ervas marinhas também estão cada vez mais ameaçadas pelo desenvolvimento costeiro.
Saber onde estão esses recursos nos ajuda a protegê-los e manter os serviços que eles estão fornecendo– Hugo Mann
Mann, que já havia feito um experimento semelhante com tubarões-tigre pra descobrir o maior pedaço de ervas marinhas do mundo, visa ampliar o rastreamento de tartarugas além das linhas costeiras.
Ele acredita que a técnica utilizada pode servir para países onde não há recursos suficientes para pesquisas dedicadas de ervas marinhas. O cientista ainda disse que confiar nas tartarugas pode ajudar a “progredir com a conservação desses recursos muito importantes”.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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