Tesouro no mar! Garrafas de champanhe estão sendo levadas para as profundezas do oceano
Qualidade de bebidas encontradas em naufrágio fez vinícolas apostarem na ideia de mergulhar rótulos premium
Já se foi o tempo em que se deixava um baú no fundo do mar. Graças a um naufrágio que aconteceu em 1852, agora a moda é levar garrafas de champanhe às profundezas do oceano — e os resultados desses experimentos estão sendo surpreendentes.
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A história começa quando um grupo de mergulhadores, em 2010, descobriu um navio naufragado no arquipélago finlandês Åland, que continha 168 garrafas de champanhe — ainda cheias — com muito valor, em todos os sentidos.
Em um leilão que ocorreu dois anos após tal descoberta, 11 dessas garrafas foram vendidas por US$ 156 mil (aproximadamente R$ 768 mil, em conversão realizada em dezembro de 2023). E, claro, que não faltariam curiosos para provar o champanhe do fundo do mar.
Assim, Phillippe Jeandet, professor da Université de Reims Champagne-Ardenne, da França, testou as bebidas na prática, ao receber amostras de três frascos para uma “análise química sensorial”, e publicou seu relatório no periódico acadêmico Proceedings of the National Academy of Sciences.
Após 170 anos de envelhecimento em águas profundas em condições quase perfeitas, essas garrafas adormecidas de champanhe acordaram para nos contar um capítulo da história da produção de vinho– Phillippe Jeandet
De início, as avaliações foram negativas, com termos como “cabelo molhado”, “redução” e até mesmo “brega”. Entretanto, depois de girar o vinho na taça e oxigenar o líquido, as notas foram para “empireumático, grelhado, picante, defumado e coriáceo, junto com notas frutadas e florais”.
Nunca provei algo assim em toda a minha vida. O aroma permaneceu na minha boca por três ou quatro horas após prová-la– Phillippe Jeandet
Outro tipo de tesouro
Após o champanhe no fundo do mar ser provado e analisado por especialistas, o jornal britânico The Guardian informou que as garrafas podem valer até US$ 190 mil (R$ 936 mil). Por isso, diferentes marcas do ramo estão numa corrida contra o tempo para realizar este experimento.
Exemplo disso é a Veuve Clicquot, empresa que faz parte do conglomerado de artigos de luxo LVHM, que, impressionada com a descoberta, está na tentativa de recriar as mesmas condições, no mesmo local. Inclusive, algumas garrafas serão deixadas em Åland por 40 anos.
Especialista em champanhe e fundadora da revista Champagne Everyday, Lucy Edwards disse que o armazenamento subaquático “é a área de desenvolvimento mais rápida no champanhe, com a maioria dos grandes produtores e até mesmo pequenas casas tentando isso”.
Não é a primeira vez
A empresa francesa Leclerc Briant, criou um cuvée chamado Abyss, no qual as garrafas estão submersas na costa noroeste da França. O diretor comercial da marca, Pierre Bettinger, disse que já realizaram o teste “para testar o envelhecimento subaquático, porque são condições perfeitas.”
Além deles, outros produtores de vinho envelhecem a bebida em gaiolas de metal abaixo do Atlântico. Na Croácia, os jarros são colocados em cerâmicas, postos em prateleiras e afundados a 50 metros abaixo da superfície do mar.
Segundo o sommelier Emanuel Pesqueira disse ao The International Wine Challenge, “os vinhos envelhecem mais lentamente debaixo d’água”, pois quanto mais fundo eles estão, maior será a pressão atmosférica — e a bebida mantém a frescura por muito mais tempo.
Alguns têm o sabor de quem acabou de ser engarrafado, dependendo do estilo do vinho, mesmo aqueles que estão no mar há dois anos– Emanuel Pesqueira
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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