Há 26 anos, peças de Lego que caíram no mar seguem chegando a praias da Europa
Acidente derrubou quase 5 milhões de blocos de montar no oceano; Tracey Williams fez da busca por eles o seu trabalho
Pisar descalço em uma peça de Lego, geralmente, é sinônimo de dor e até lágrimas — a menos que você esteja em uma das praias da Cornualha, no Reino Unido. Isso porque o local recebe, há 26 anos, peças de brinquedo trazidas pelas ondas. Em 1997, um navio de carga derrubou no oceano um contêiner carregado de blocos de montar, jogando milhões de peças de Lego no mar.
Vida a bordo: britânica mostra como um narrowboat é sua casa flutuante nos canais de Londres
Garanta seu ingresso para o Foz Internacional Boat Show com 20% de desconto
Inscreva-se no Canal Náutica no Youtube
Agora consideradas grandes relíquias, os quase cinco milhões de bloquinhos de Lego perdidos ganharam ainda mais importância depois que Tracey Williams, de Newquay (Inglaterra), passou a reunir as pecinhas que encontrava na praia e registrar os objetos. A tarefa acabou virando seu grande objetivo de vida, transformando o acontecimento até mesmo em um livro.
Tudo começou quando o navio Tokio Express partiu do Japão rumo a Southampton, na Inglaterra, carregado de contêineres. No meio do caminho, durante uma tempestade, 62 das gigantes caixas de aço caíram no oceano. Entre elas, o contêiner que deixou um rastro dos objetos coloridos flutuando no mar.
Ironicamente ou não, grande parte das peças de Lego no mar tinham como tema, justamente, o mar. Então, com o passar do tempo, coletes salva-vidas, arpões, tanques de mergulho, nadadeiras, itens para navios piratas, polvos, botes e todo tipo de pequenos objetos de plástico começaram a aparecer na areia das praias da Cornualha — e seguem aparecendo mesmo após 26 anos.
Desde 2010, 13 anos após o acidente, Tracey Williams caminha pelas praias da Cornualha em busca das peças perdidas, colecionando e catalogando os objetos. O que começou por diversão, agora é seu trabalho em tempo integral.
A princípio, Tracey entrou em um dos grupos de limpeza das praias da Cornualha. Depois, criou sua própria página no Facebook, para se conectar com pessoas que encontrassem os objetos e descobrir que tipos de peças elas tinham.
Agora, seu perfil Lego Lost at Sea (“Lego perdido no mar”, em português) tem mais de 74 mil seguidores na rede, além de 65 mil no X (Twitter) e 27 mil no Instagram, entre caçadores de praias, oceanógrafos, cientistas, arqueólogos marítimos, mergulhadores, comunidade pesqueira e, claro, curiosos. Através das páginas, ela consegue estimar quantas peças já foram encontradas.
Graças ao oceanógrafo Dr. Curtis Ebbesmeyer, que escreveu à Lego em 1997 perguntando o que havia no contêiner, Tracy possui um inventário de toda a remessa original. Assim, pode comparar a lista de produtos naufragados com o que já foi achado por aí.
Peças de Lego raras
Entre as quase 5 milhões de peças havia uma enorme variedade de itens, entre eles, 28.700 botes amarelos, 52 mil hélices vermelhas, 4.200 polvos pretos, 33.427 dragões negros, 514 dragões verdes e mais de 15 mil tubarões — que, até hoje, não tiveram uma unidade sequer encontrada.
Por conta da baixa quantidade, os dragões verdes e os polvos pretos são considerados itens raros e valorizados, o que aumenta o entusiasmo das pessoas por encontrá-los na areia. Além desses, mais conhecidos, existem peças ainda mais raras, das quais mal se sabia da existência, mas que Tracey relata em suas páginas nas redes.
É o caso de um tijolo verde, encontrado ainda em outubro de 2023 no fundo do mar. Segundo a página da Lego Lost at Sea, haviam 520.541 destes blocos no contêiner e, por não flutuarem, eles acabaram presos nas profundezas.
Ainda segundo a página, um outro tipo de tijolo foi encontrado em julho pela primeira vez. O modelo faz parte de uma remessa de 44.000 deles perdidos no oceano.
O trabalho de Tracey e a poluição dos mares
O trabalho de Tracey pode até parecer divertido a um olhar distraído. Mas ele vai muito além e, indiretamente, chama atenção das pessoas para todo o tipo de plástico que existe no mar atualmente.
“Eu não me descreveria como uma guerreira ecológica, mas a busca por Lego me fez perceber como há muito plástico por aí”, mencionou Tracey Williams em entrevista ao Cornwall Live, um jornal semanal da Inglaterra.
O bom de Lego Lost At Sea é que ele nos permite falar sobre a poluição plástica de uma forma que as pessoas possam apreciar e que não seja muito assustadora– Tracey Williams, em entrevista ao Cornwall Live
Muito por isso, o projeto de Tracey já virou até livro. “À deriva: a curiosa história do Lego perdido no mar” compartilha a história da inglesa em busca dos blocos de montar, assim como chama atenção para outros objetos trazidos do oceano.
Outra consequência de seu trabalho foi a exposição de sucesso “Adrift – Lego Lost at Sea”, que precisou, inclusive, ser prorrogada. A atração está aberta ao público no Royal Cornwall Museum, na Inglaterra, até 25 de novembro, e chama os olhares para as consequências da poluição plástica.
“As pessoas viajam milhares de quilômetros em busca de peças na Cornualha — eu sei que os caçadores de praias vêm da Bélgica, da Itália e dos Estados Unidos. Como resultado, fiz bons amigos em todo o mundo”, comenta Tracey.
Náutica Responde
Faça uma pergunta para a Náutica
Relacionadas
Dois grandes sucessos da marca atracarão no salão, de 28 de novembro a 1º de dezembro, no Lago de Itaipu
Espécie não era vista na costa de Washington desde 1970; um dos animais avistados é sobrevivente das capturas
Preparado em uma tradicional panela de barro, prato exclusivo é o carro-chefe do restaurante especializado em frutos do mar
Evento acontece em paralelo com o salão náutico, no dia 30 de novembro, no Iate Clube Lago de Itaipu
Público poderá conferir equipamentos a partir de R$ 9,5 mil no estande da marca; salão acontece no Lago de Itaipu, de 28 de novembro a 1º de dezembro