“Titanic brasileiro”: maior tragédia marítima brasileira aconteceu em Ilhabela e durou cinco minutos

Naufrágio do Príncipe de Astúrias completou 108 anos em 2024 e pode ter vitimado aproximadamente mil pessoas

14/12/2024
Foto: Domínio público

Cinco minutos. Foi este o tempo necessário para o navio transatlântico Príncipe de Astúrias naufragar na costa de Ilhabela, no litoral de São Paulo, na madrugada de 5 de março de 1916. O acidente aconteceu em dia de Carnaval e dizimou a vida de 477 pessoas, ficando conhecido como o “Titanic brasileiro”.

Até hoje, esta é a maior tragédia marítima da história brasileira. Tanto é que ainda se especula se o número de mortos foi realmente na casa de 400 pessoas, pois mais de mil sepulturas foram encontradas nas praias — que sequer encaixa com o número total de passageiros do navio, que oficialmente, era 654.

Pintura que retrata o naufrágio do Príncipe de Astúrias. Foto: Creative Commons/ Reprodução

Naquele período, havia uma grande fuga da Europa ao fim da Primeira Guerra Mundial, e com isso, praticamente todos os navios saíam dos portos completamente lotados. Por conta disso, estudiosos acreditam que cerca de mil pessoas estavam na embarcação, com muitos de forma clandestina.

 

Construído na Escócia em 1914 sob encomenda de uma companhia espanhola, o Príncipe de Astúrias possuía uma estrutura de duplo casco, assim como o famoso Titanic. Naquela época, este recurso permitia viagens mais rápidas e era considerado seguro.

Claro, não quer dizer que o navio naufragou por conta do casco. Na realidade, o que causou o desastre foi uma mudança de rota do capitão José Lotina, por conta de uma forte chuva que caía no Litoral Norte paulista. Pouco tempo depois, o barco acabou colidindo com uma barreira de corais na Ponta da Pirabura.

O início da tragédia

Como era de se imaginar, o capitão não sabia que estava prestes a navegar numa área de corais, que tem como características águas mais rasas. Quando aconteceu a colisão, nem deu tempo dos passageiros fazerem muita coisa. Muitos deles, inclusive, estavam dançando marchinhas de Carnaval no salão de baile do Príncipe dos Astúrias.

Foto: Blog Jeannis Platon/ Reprodução

O choque ocorreu às 4h15 da madrugada, danificando a estrutura do navio e abrindo uma fenda de aproximadamente 40 metros no casco. Poucos minutos depois, a casa de máquinas foi inundada, as caldeiras explodiram e o barco se partiu em três pedaços.

 

Com a explosão, muitas pessoas morreram imediatamente. Bastou apenas cinco minutos para que o “Titanic brasileiro” colapsasse e afundasse no mar. Inclusive, a título de comparação, o próprio Titanic levou mais de duas horas para afundar completamente.

Foto: Blog Jeannis Platon/ Reprodução

Foram resgatadas 143 pessoas que estavam no Príncipe de Astúrias, e incontáveis cadáveres foram retirados do mar pelo navio inglês Vegas, que também ajudou a socorrer algumas vítimas. Até hoje, os corpos do capitão Lotina e do primeiro oficial, Antônio Salazar Linas, não foram encontrados.

 

Entre os passageiros, o historiador Fernando Alves conta que “os corpos se espalharam pelo Litoral Norte e, quando encontrados, foram enterrados nas praias”.

Cerca de 600 pessoas foram enterradas na praia da Serraria e 300, em Castelhanos– Fernando Alves, historiador, citando praias de Ilhabela

Atualmente, o Príncipe de Astúrias encontra-se a 30 metros de profundidade, ao lado da Ponta da Pirabura. Em 1989, alguns pedaços da embarcação foram detonados com dinamite, para não prejudicar a rota de barcos pelo local.

Prejuízo sem fim

Além de ter vitimado centenas de pessoas, o naufrágio do Príncipe de Astúrias também trouxe perdas enormes com as cargas perdidas — já que o barco operava de forma mista, levando tanto pessoas quanto mercadorias. Entre três diferentes classes, o navio comportava até 1.890 passageiros.

Foto: Blog Jeannis Platon/ Reprodução

Segundo Fernando Alves, a rota de travessia — que já tinha sido realizada outras seis vezes — durava cerca de 30 dias. A viagem partia de Barcelona, com escalas em Cadiz, Las Palmas e Ilhas Canárias (todas na Espanha); Rio de Janeiro e Santos, no Brasil; Montevidéu, no Uruguai; e, por fim, Buenos Aires, na Argentina.

 

Saber seu trajeto é importante e talvez ajude a decifrar algumas cargas, no mínimo, curiosas que estavam no Príncipe das Astúrias. Por exemplo: 12 estátuas de mármore e bronze, encomendadas pela Espanha e que seriam colocadas no Parque Palermo, em Buenos Aires, como parte do moumento “la Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas”.

Itens encontrados do naufrágio do “Titanic brasileiro”, no Museu Náutico de Ilhabela. Foto: Museu Náutico de Ilhabela/ Divulgação

As peças custavam cerca de 40 mil libras-ouro no total, um valor e tanto para a época. Inclusive, uma das estátuas encontradas está exposta no Serviço de Documentação Geral da Marinha, no Primeiro Distrito Naval, no Rio de Janeiro. Do restante, recuperaram somente fragmentos.

 

Além disso, eram transportadas toneladas de cobre, estanho, fios elétricos de alta tensão, chumbo, 80 garrafões de mercúrio, 20 âncoras de ferro e diversos outros materiais. Circula um boato que de havia 11 toneladas de ouro dentro do “Titanic brasileiro”, no entanto, como nunca houve uma comprovação disso, é provável que não passe de lenda.

Miniatura do Príncipe dos Astúrias, no Museu Náutico de Ilhabela. Foto: Museu Náutico de Ilhabela/ Divulgação

Diversos itens do “Titanic brasileiro” encontrados por mergulhadores e moradores locais estão hoje exibidos no Museu Náutico, em Ilhabela. Lá, é possível encontrar talheres, cristais, objetos de prata e outras peças utilizadas pelos hóspedes do Príncipe de Astúrias.

 

Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida

 

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