Gigante: “peixe fantasma” considerado extinto desde 2005 reaparece no Camboja
Espécie endêmica do Rio Mekong pode medir até 1,3 metros e pesar 30 kg; há menos que 30 delas registradas desde 1991
O mega peixe conhecido como “fantasma do Mekong” renasceu — na verdade, nunca esteve totalmente morto. Considerada extinta desde 2005, a carpa-salmão-gigante (Aaptosyax grypus) foi avistada mais de uma vez no Camboja, e reacendeu a esperança pela sobrevivência da espécie.
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Após quase duas décadas sem registros, o “mega peixe-fantasma” voltou a ser avistado — e na falta de um, logo três foram registrados de 2020 a 2023. As capturas dos espécimes adultos ocorreram no rio abaixo da área de distribuição histórica da espécie, mas ainda no vital Rio Mekong, no Sudeste Asiático.
Como era de se imaginar, estes recentes avistamentos animaram os cientistas. Novas ocorrências oferecem uma oportunidade para desenvolver um planejamento de conservação do ecossistema, aproveitando novas técnicas de DNA ambiental para identificar habitats prioritários para proteção.
Publicada no periódico Biological Conservation, a pesquisa enfatiza a necessidade de medidas inovadoras para proteger o Rio Mekong, denominado como uma “superestrada de peixes”, que abriga alguns dos maiores peixes de água doce da Terra — como uma arraia gigante que pesa 300 quilos!
Inclusive, estima-se que das mais de 1.100 espécies de peixes no Mekong, cerca de 25% não são encontradas em nenhum outro canto do planeta. Além disso, este rio sustenta a maior pesca interior do mundo, responsável por sustentar pelo menos 40 milhões de pessoas.
O ecossistema do Mekong é o rio mais produtivo da Terra, produzindo mais de dois milhões de toneladas de peixes por ano, no valor de mais de US$ 10 bilhões– Bunyeth Chan, pesquisador-chefe da Universidade Svay Rieng, no Camboja
Ainda resta esperança
O mega peixe fantasma — e outras espécies de Mekong — enfrentam outras ameaças além da sobrepesca, como a degradação do ecossistema, por exemplo. Porém, se serve como esperança, a descoberta desses três espécimes sugere que esta carpa ainda tem um ponto de apoio nessa região.
Entretanto, seu futuro continua precário e incerto. Atualmente, este peixe — que é nativo do Mekong — tem menos de 30 indivíduos registrados desde a sua identificação formal, em 1991. Logo, sem uma ação coordenada, tais carpas podem, agora de vez, entrar em extinção.
Os números de Aaptosyax são muito baixos, e não sabemos quantas populações permanecem, ou se elas estão conectadas– Zeb Hogan, coautor do estudo e diretor do programa Wonders of the Mekong
Pelo lado positivo, as três capturas recentes ocorreram na zona de distribuição central da espécie, no Rio Sesan, no Camboja, e na Província de Stung Treng, no Menkong. Logo, os cientistas cogitam que o alcance geográfico deste mega peixe fantasma pode ser mais extenso do que se acreditava.
Para que a dúvida se torne certeza, os pesquisadores defendem uma análise de DNA ambiental. Este método permite que os cientistas detectem a presença das espécies por meio de material genético em amostras de água — uma maneira menos invasiva e perturbadora de rastrear a distribuição do animal.
Também não está descartado uma ação com o envolvimento da comunidade local — inclusive, este é o desejo dos cientistas. Assim, pode-se reunir mais informações críticas sobre o habitat e o comportamento da carpa.
Os pescadores locais possuem conhecimento ecológico inestimável e podem ser essenciais na identificação de habitats importantes e no estabelecimento de zonas de conservação– Sébastien Brosse, um dos coautores do estudo
Uma raridade viva
Como dito anteriormente, o mega peixe fantasma é um animal endêmico e criticamente ameaçado da bacia do Rio Mekong. A espécie pode medir até 1,3 metros e chegar a 30 quilos, o que lhe coloca na família dos “megafish” — peixes de água doce que excedem 30 quilos.
Além disso, o animal possui uma protuberância notável na ponta da sua mandíbula inferior — que lembra até um gancho — e uma mancha amarela amedrontadora ao redor dos olhos. Atualmente, o Aaptosyax grypus está listado como criticamente ameaçado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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