Conheça a trajetória de Ernesto Breda, tricampeão da Semana de Vela de Ilhabela

Com mais de 30 participações na competição de vela, o velejador representa o evento como poucos

01/01/2024
Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Divulgação

Se Eduardo Souza Ramos reinou e — ainda reina — dentro e fora das raias como “o Senhor Semana de Vela de Ilhabela”, um dos velejadores mais dignos de fazer parte de sua corte — e um de seus adversários mais respeitáveis nas competições — é o paulista Ernesto Breda, de 74 anos.

O comandante do veleiro Touché representa como ninguém o perfil do velejador cuja bússola, todo ano, especialmente no mês de julho — mas não apenas — aponta para Ilhabela, mantendo com a Capital da Vela uma relação sólida e duradoura.

Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Divulgação

Assim, lá se vão mais de 30 participações na mais famosa competição da vela oceânica brasileira, com direito à conquista de um tricampeonato seguido, nos anos 2010, 2011 e 2012, na classe principal , além de outras 20 na Copa Mitsubishi — Circuito Ilhabela de Vela Oceânica.


 

Antes de Ilhabela: a trajetória de Ernesto Breda

Desde pequeno, antes de Ilhabela, Ernesto Breda esteve ligado ao mar e aos barcos. Seu pai, o italiano Ítalo Breda, gostava muito de navegar. Chegou, inclusive, a construir um trawler para fazer turismo na Baía de Guanabara. Depois, associou-se ao Iate Clube de Santos e trouxe o barco para o Guarujá.

 

Estimulado por seu amigo Maurício Verdier, Breda começou a velejar; inicialmente, de Pinguim, na Represa de Guarapiranga; depois foi para a vela de Oceano.

Tive o privilégio de começar a velejar muito cedo, já de Oceano, no veleiro Kameha-Meha, do meu pai, competindo ao redor das ilhas na região de Santos. Em janeiro de 1973, tendo o Jonas Penteado, como navegador, fiz a minha primeira travessia do Atlântico, na regata CapetownRio– Ernesto Breda

Foto: Carlo Borlenghi/ Divulgação

Assim contou o velejador, referindo-se à mais longa regata oceânica do Hemisfério Sul, na época, entre a Cidade do Cabo e o Rio de Janeiro, em que chegou em sexto lugar.

A navegação era feita com sextante, ainda, e a gente fazia conta com seno, cosseno, com régua de cálculo, cronômetro de corda, essas coisas

No mesmo ano, Breda viajou para a Inglaterra para a disputa da Admiral’s Cup, que correu pelo time de Portugal, a bordo do Rajada IV, do comandante Vladislovas Polisaitis. Durante a competição conheceu, e pouco depois comprou e trouxe para o Brasil, um veleiro one tonner igual ao Ganbare.

 

Com esse veleiro, Ernesto Breda ganhou o Circuito Internacional de Vela Oceânica, competindo com barcos icônicos como o australiano Bumblebee, os brasileiros WaWa Too e Procelaria e os argentinos Red Rock, Fantasma e Matrero.

Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Divulgação

Esse período, que o velejador chama de “era romântica”, marcou a chegada ao Brasil dos primeiros barcos de oceano de fibra de vidro vindos da França e dos EUA e das velas de fibras sintéticas, em substituição aos cascos e mastros de madeira e velas de algodão, como os da Classe Brasil.

Essa minha primeira fase foi muita rica como marinheiro e navegador, muito mais do que como velejador

O nome desse seu antigo veleiro era Liho Liho, em homenagem ao antigo rei do Havaí. Assim como Kameha-meha, o nome de seu primeiro barco de Oceano, homenagem ao unificador das ilhas havaianas, pai do Liho-Liho. Detalhe: ainda na ativa, o Kameha-meha participou da 50ª SIVI, sob comando de Mark Essle.

Nova era da vela brasileira

Segundo Ernesto Breda, a virada do século marcou o início de uma nova era para a vela brasileira, quando os barcos passaram a contar com equipamentos de alta tecnologia, como radares e GPS, e Eduardo Souza Ramos, um pouco antes, passou a patrocinar não só a Semana de Vela de Ilhabela, mas a vela em si.

Este, foi um divisor de águas para o esporte no Brasil– Ernesto Breda

Foi quando, também, ele começou a se destacar nas águas da bela ilha. “Durante uns dois ou três anos, eu participei da Semana de Vela com um barco de cruzeiro, o meu primeiro Touché, com o qual percorri boa parte da costa brasileira, com minha mulher e as minhas filhas.

Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Reprodução

Reunia uns amigos e corria. Mas aí resolvi subir de nível. Para isso, foi necessário trocar de barco. Comprei um Multimar, que batizei de Touché Petit, porque era um veleiro pequeno, com o qual cheguei em segundo lugar na Santos-Rio, à frente do Torben Grael e perdendo na chegada para o Horácio Carabelli, desenhista de um barco gêmeo ao meu”, diz, sem esconder um ponta de orgulho.

Depois, passei para um ILC 30, o antigo Caninana, que batizei de Touché Light, seguido de um Farr-40, que virou Touché Plus, e do B&C 46, o Touché Super. E o meu bote é o Touché Júnior

A partir daí, o Breda mudou de patamar, passando a disputar o título na categoria principal. “Um dos orgulhos que tenho foi quando o Eduardo Souza Ramos, perguntado sobre qual, entre tantas conquistas, tinha sido a vitória mais marcante”, disse Ernesto.

Foto: Aline Bassi | Balaio de Ideias / Divulgação

“Foi derrotando o Touché na Semana de Vela de 2009’. Naquele ano, nós fomos para a última regata quatro pontos na frente, na ORC Internacional 500. O Mitsubishi, de 57 pés, largou nos marcando. Com um golpe de mestre, o Eduardo nos jogou para o lado errado da raia, sujando o nosso vento, e partiu tentando ganhar a regata, esperando que não tirássemos a diferença. E deu”, completou Breda

Tanto ele conseguiu ganhar a regata como nós não conseguimos tirar o tempo

Na contagem final, o Mitsubishi/Gol e o Touché/Safra empataram, com 17 pontos, mas, com três vitórias contra duas, o barco de Eduardo Souza Ramos venceu no critério de desempate. Não poderia haver desfecho mais emocionante para um grande evento, um dos melhores da história.

Título em Ilhabela: a vitória de Ernesto Breda

Já no ano seguinte, agora como Touché Super, um veleiro de 46 pés, o comandante Ernesto Breda finalmente faturou a Semana de Vela, o título que lhe faltava. Naquele 2010, ele já havia vencido praticamente todas as regatas de oceano que havia disputado — menos Ilhabela. E ele veio.

Foto: Carlo Borlenghi/ Divulgação

Além do tão sonhado título, Ernesto Breda não parou por aí. Viriam novamente nos dois anos seguintes, com os quais pode celebrar um tricampeonato autêntico, com três conquistas consecutivas da Semana de Vela de Ilhabela.

 

Graças ao diretor de vela do YCI daquele período, José Nolasco, a Semana de Vela havia conquistado status de competição internacional, passando a se chamar Rolex Ilhabela Sailing Week e a integrar um circuito mundial — inclusive, o relógio Rolex Oyster Perpetual Explorer era o prêmio dado ao campeão.

Fiquei com o primeiro e sorteei os outros dois entre a tripulação. Alguns colecionadores já tentaram arrematá-lo, mas eu não vendo. Uma honraria assim não tem preço– Ernesto Breda

Mudando o rumo

Próxima competição, mundial de ORC, em Ancona, na Itália. “Tivemos a felicidade de vencer a última regata da série, entre 60 barcos. E terminamos como vice-campeões amadores”, lembra. Naquele ano de 2013, o comandante do Touché acumulava no currículo sete títulos, entre nacionais, Ilhabela e Copa Suzuki.

 

Mas o vice na Itália marcou o começo do fim de Breda no comando de barcos. No entanto, não abandonou o mundo da vela, com o qual tem profunda ligação. No país da bota, ele vendeu seu barco e começou a fazer parte da tripulação do Rudá, do comandante multicampeão Mário Augusto Martínez.

 

Tão cedo, aposentadoria não faz parte dos planos de Ernesto Breda, garante. “O esporte ensina muito”, acredita. “Sofro muito quando não consigo fazer uma Santos-Rio, por exemplo”, diz o velejador. Sendo assim, ainda vamos ouvir falar muito sobre ele — especialmente em Ilhabela.

 

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