Cidades flutuantes são a nova tendência no mundo dos bilionários
Projetos ambiciosos visam, principalmente, a possibilidade de viver sem regulamentações e impostos
Pela falta (ou sobra) de opções para investir seus infinitos cifrões, os bilionários acabam, por vezes, fazendo escolhas, no mínimo, questionáveis. Foi assim com o submarino que tentou visitar o Titanic, é assim com as viagens de Elon Musk para fora do globo e parece que também será dessa forma com um novo investimento: as cidades flutuantes.
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Essa nova “febre” entre os bilionários não é de hoje, mas tem ganhado força nos últimos tempos por dois motivos em especial: a fuga de desastres naturais — um tanto quanto irônico — e, principalmente, a possibilidade de viver sem regulamentações e impostos.
Mas, afinal, quem são essas pessoas? Os principais personagens dessa história — que ainda traz peças coadjuvantes — são Peter Thiel, empresário estadunidense co-fundador do PayPal, e Chad Elwartowski, famoso entusiasta dos bitcoins.
Tentativas e esperanças de Chad Elwartowski
Talvez você já tenha ouvido falar de Chad Elwartowski, não pelos bitcoins e tampouco pela ideia das cidades flutuantes, mas, sim, pelo noticiário. Isso porque, em 2019, ele e a esposa, Nadia Thepdet, foram caçados pelo governo da Tailândia — justamente quando a ideia de viver em uma cidade flutuante começava a tomar forma.
Elwartowski construiu uma casa flutuante de fibra de vidro (sem autorização prévia) para o casal, na costa da Tailândia — conhecida por suas regras rígidas. A obra foi realizada por meio da Ocean Builders, um grupo do qual o empresário chegou a ser presidente em 2023, que atua na construção de moradias e cidades independentes em regiões do oceano que não pertencem a governos — logo, sem regulamentações e impostos.
A atitude foi vista pelo governo da Tailândia como uma ameaça à segurança nacional, e o casal passou a ser caçado pelas autoridades locais, com risco, inclusive, de pena de morte.
Logo após o governo do país destruir a casa flutuante, os dois seguiram foragidos e, de acordo com reportagem do The Guardian, chegaram a Singapura.
De lá, ambos viajaram até o Panamá, onde vivem atualmente e seguem tocando os negócios da Ocean Builders — Chad como diretor de operações da empresa e Nadia como diretora de sustentabilidade.
Em 2022, a Ocean Builders lançou o “Seapod”, um edifício flutuante com 733 pés quadrados de área útil (cerca de 223 m²), sobre uma estrutura a dois metros acima da água. Contudo, o primeiro deles entrou em colapso ao ser inaugurado em setembro do mesmo ano, com seus fabricantes alegando “mau funcionamento da bomba de esgoto”.
Peter Thiel é mais discreto — e menos eficiente
Em 2008, ainda quando nada se falava sobre viver em cidades flutuantes, nasceu o Seasteading Institute, fundado pelo ativista, engenheiro de software e teórico político-econômico Patri Friedman (neto do economista ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman) e por ele: o empresário Peter Thiel.
A organização sem fins lucrativos, com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, define seu objetivo como “construir comunidades de startups que flutuem no oceano sem qualquer medida de autonomia política.” O Seasteading Institute passou 15 anos analisando, justamente, essa ideia livre de regulamentações.
Thiel parece ter se afastado do instituto nos últimos anos, mas a organização ainda está prosperando. Joe Quirk, presidente da Seasteading, disse recentemente em vídeo no YouTube que “a tecnologia para governos de startups flutuantes está disponível e estamos ansiosos para que isso aconteça o mais rápido possível.”
“Eu vim aqui do oposto de uma cidade flutuante, que é San Francisco, Califórnia. Muitas pessoas não estão satisfeitas com a forma como [a cidade] é governada”, comentou ele.
Imagine se pudéssemos dividir San Francisco em vários pequenos pedaços, e as pessoas pudessem se movimentar e escolher os vizinhos que desejam. Teríamos variação por provedores de governança e seleção por cidadãos– Joe Quirk, presidente da Seasteading Institute
O alvorecer da era aquática
Além das duas figuras principais dessa história, a empresa Arktide, da Flórida, também nos EUA, planeja construir “imóveis acessíveis nos mares” na próxima década, enquanto o SeaPod, da Ocean Builders, está planejando construções na Ásia e na Europa.
O alvorecer da era aquática começou!– diz a SeaPod
O projeto Oceanix Busan, na Coreia, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), chega nesse universo, contudo, com outra visão: construir uma cidade flutuante para enfrentar as mudanças climáticas e ajudar as comunidades costeiras a lidar com o aumento do nível do mar.
Busan pretende fornecer tecnologia inovadora para cidades costeiras que enfrentam grave escassez de terras, agravada por ameaças climáticas– menciona a empresa
Algo semelhante acontece com o projeto japonês Dogen City, que visa criar um habitat autossuficiente para 40 mil pessoas em uma área equivalente a 4 km de circunferência, para fugir, também das consequências da elevação do nível do mar.
Seja oportunidade, apropriação ou necessidade, a iniciativa das cidades flutuantes parece que ainda vai levar a muitas discussões envolvendo países e empresários.
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