Fotógrafo captura cena impressionante de jubarte atravessando raias: “muito emocionado”
Imagens que encantaram as redes mostram baleia entrando no meio do enorme cardume da espécie ameaçada de extinção
Quem tem a sorte de se deparar, pela tela do celular, com as imagens recém-flagradas pelo fotógrafo Rafael Mesquita, 38, dificilmente consegue evitar o momento de contemplação. Dona de indiscutível beleza, a cena de uma baleia jubarte atravessando um cardume de raias ticonha se equipara a um quadro em movimento, cujo pano de fundo é a natureza em sua expressão mais livre.
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O registro, feito em São Sebastião, litoral de São Paulo, foi compartilhado no Instagram no mesmo dia em que aconteceu, em 9 de maio, e já registra mais de 40 mil curtidas. Nos comentários, internautas encantados questionam se está liberado “chorar vendo um vídeo desses” e elogiam o olhar sensível do autor: “Graças a você, vi uma das cenas mais lindas na minha vida!”
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Se a filmagem fascina quem a vê pelas redes, há de se imaginar o impacto que teve em Rafael. Natural de São Paulo e morador de Bertioga — cidade que escolheu para ficar sempre perto do mar –, o fotógrafo conta que mal acreditava no que via quando fez o registro.
Fiquei todo arrepiado, muito emocionado. Eu não planejei, não esperava. Quando estava fazendo a imagem, percebi que era algo muito inédito, lindo– revela à NÁUTICA
A surpresa que tomou Rafael tem fundamento. Já havia alguns dias que o head dos projetos Megafauna Marinha e Mantas de Ilhabela estava monitorando uma baleia “emalhada” — termo que se dá quando o animal tem uma rede ou outro material enroscado no corpo –, com o objetivo de encontrar um bom momento para acionar ajuda e resolver o problema da jubarte.
Naquela quinta-feira, era por volta das 11h quando o fotógrafo, já no mar, percebeu a presença de uma baleia pelas redondezas e decidiu averiguar, com o drone que usa para capturar fotos e vídeos, se era a que procurava.
Ao receber a negativa, se defrontou com as ticonhas, espécie ameaçada de extinção no Brasil. Os animais logo fisgaram sua atenção, em especial pelo enorme tamanho do cardume, dificilmente encontrado em nossas águas nessa proporção.
“Eu nem imaginava que existia aquele cardume ali, porque do barco você não tem ideia. Coisa mais linda. Quando o cardume foi abrindo até fiquei meio chateado, achei que fosse entrar um barco, mas aí ela [a jubarte] apareceu. Eu nem estava mais a acompanhando”, relembra. “Era para ser. Foi o momento exato, na hora exata, do jeito exato”.
Rafael confessa que até imaginou que a cena repercutiria na internet, mas não da forma que aconteceu. Ele relata ter recebido mais de dois mil comentários por dia desde a postagem, inclusive de pessoas questionando se as imagens são fruto de Inteligência Artificial e duvidando terem sido feitas no Brasil.
Isso, inclusive, é o que mais deixa Rafael feliz: poder mostrar que lugares tão modificados pelo homem, como o litoral de São Paulo, também são palco para espetáculos da natureza. “Não é algo que aconteceu do outro lado do mundo, é aqui, no quintal de casa”.
Sonho de infância
Rafael avalia que a baleia jubarte que atravessou as raias é bem nova, devido ao tamanho — já que adultos da espécie podem alcançar até 16 metros de cumprimento. Ele ainda arrisca dizer que, talvez, esta “seja a primeira vez que ela veio para nosso litoral sozinha”.
A presença da espécie no Brasil não é novidade. Altamente migratórias, as jubartes costumam habitar os mares antárticos durante o verão e viajam até a costa brasileira no inverno para acasalar, parir e amamentar os filhotes, beneficiando-se das águas mais quentes.
Em vista da caça predatória que sofreu no passado, a população das jubartes foi reduzida a algo entre 500 e 800 animais em nossas águas, números que aumentam desde 1985, quando a prática foi proibida. De acordo com o Projeto Baleia Jubarte, a temporada de 2022 registrou cerca de 25 mil baleias, resultado animador que se aproxima dos anteriores à caça comercial — de 27 a 30 mil.
Atuante no mercado financeiro, com formação em Engenharia Civil e Marketing, Rafael consegue levar uma rotina flexível que o permite estar todos os dias no mar. Embora avistar baleias agora faça parte de seu cotidiano, isso parecia impensável algumas décadas atrás.
Eu tenho o sonho de ver baleia desde criança. Quando aconteceu pela primeira vez, parecia que estava vendo um disco voador– brinca
O gosto pela fotografia também nasceu nos anos mais tenros, mas só foi resgatado por volta de 2019, quando decidiu registrar, de forma amadora, os animais marinhos que topavam com ele durante as aventuras de jet ou barco.
O problema é que, com a baixa qualidade das fotos, veio a frustração. Algo como a sensação que uma pessoa tem ao ver uma lua cheia linda e não conseguir passar quase nada dessa beleza para a imagem feita com o celular, segundo ele.
Ao investir em equipamentos melhores, em cursos e workshops de fotografia, Rafael atraiu a atenção de cientistas interessados em saber detalhes de suas fotos. Foi assim que conheceu os projetos em que atua e outros tantos com os quais se relaciona.
Poder ver essas coisas já é maravilhoso; registrar de uma maneira tão bonita é a realização do propósito da minha vida. É o que me faz viver e gostar de estar vivo– destaca
Porta-voz da conservação
O fotógrafo parte da premissa de que a natureza está ameaçada, em parte, pelo afastamento das pessoas. É por isso que batalha tanto para que a chamada ciência cidadã, feita pela população em geral, se fortaleça.
Minha ideia, com as fotos, é aproximar as pessoas da natureza, porque faz mais sentido pensar em conservação quando você sabe sobre a importância dela. É impossível proteger algo que não se conhece– afirma
O fotógrafo relembra que, tempos atrás, ele mesmo possuía diversas dúvidas sobre o assunto e não detinha metade das informações que tem hoje. Uma delas é sobre a presença de orcas no litoral paulista — animais que já flagrou em suas expedições no mar.
“As pessoas não precisam ter conhecimento técnico para colaborar com a ciência. Minha mensagem é para que todos procurem mesmo participar. Quero ser um influenciador nesse sentido, de colaborar para o conhecimento dos outros”, finaliza.
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